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Polarização no Caso Marielle: militantes usam apps para associar presos a Lula e Bolsonaro
A prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ), do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Domingos Brazão e do delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa, neste domingo (24), por possível envolvimento no assasinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), serviu de combustível para brigas políticas — turbinadas por trocas de fotos, vídeos e links — travadas em dezenas de grupos públicos de WhatsApp e Telegram.
Levantamento feito pela Lupa no início da tarde deste domingo, a partir de dados coletados pelo monitor da Palver, mostra que ao menos 242 mensagens mencionando os detidos junto a outros expoentes da política nacional circularam em quase cem grupos públicos criados nos aplicativos de mensagem mais populares do país. Esses conteúdos, que buscam politizar as prisões decretadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, podem ter alcançado mais de 85 mil diferentes usuários desses dois aplicativos.
Nessa primeira edição do estudo, que poderá ser atualizado nas próximas horas, a Lupa identificou que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos são mencionados em ao menos 154 mensagens diferentes que tratam de pelo menos um dos presos na operação de hoje.
O conteúdo mais popular na tentativa de associar os Bolsonaros aos três detidos hoje consiste em um vídeo aparentemente extraído do Instagram do deputado Chiquinho Brazão. A gravação — cujos trechos ou frames foram identificados 16 vezes na amostra observada — mostra Flávio Bolsonaro (PL-RJ), sorridente, ao lado de Brazão, numa carreata política. A música de fundo é um funk que pede voto para Bolsonaro como presidente, usando o número 22, das eleições de 2022. Em 2018, o número de urna de Jair Bolsonaro era 17.
Em alguns grupos observados pela Lupa, essa tentativa de associação entre os detidos e a família Bolsonaro foi rapidamente rebatida com uma foto do conselheiro Domingos Brazão, também preso hoje, durante a campanha eleitoral de 2014. Na imagem, Domingos veste uma camiseta em apoio à então candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência da República, Dilma Rousseff. 
Menções ao general Walter Braga Netto também foram frequentes na tentativa de aproximar os Bolsonaros dos possíveis mandantes da morte de Marielle Franco. O nome do militar aparece junto ao da vereadora em pelo menos 61 mensagens que se distribuíram por 26 grupos públicos de WhatsApp e Telegram, tendo alcançado mais de 20 mil diferentes usuários. 
Muitas dessas mensagens lembram que Walter Braga Netto era interventor federal no Rio de Janeiro quando Marielle foi assassinada e que foi ele quem indicou o delegado Rivaldo para a chefia da Polícia Civil do estado. Essas postagens erram, no entanto, ao atribuir a Jair Bolsonaro a nomeação de Braga Netto para o posto de interventor no RJ. Essa decisão foi tomada pelo ex-presidente Michel Temer em fevereiro de 2018. 
Até às 17h deste domingo também havia, em grupos públicos de WhatsApp e Telegram, ao menos 88 mensagens que buscavam associar os detidos de hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou a seu partido, o PT. Esses conteúdos foram observados em pelo menos 67 grupos públicos com quase 40 mil diferentes usuários de WhatsApp e Telegram.
Nesse universo, duas postagens se destacaram. A primeira trazia um link com fotos de Chiquinho Brazão em cerimônia pública ao lado da deputada federal Daniela do Waguinho (União-RJ), ex-ministra do Turismo do governo Lula. A segunda continha um link para uma nota que lembrava que, em 2011, o hoje ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, deferiu liminar em favor de Domingos Brazão quando era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), suspendendo a cassação do mandato dele, anteriormente determinada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro.
No mesmo levantamento, a reportagem também viu diversas tentativas de associar o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD-RJ), a Domingos Brazão. Uma mesma foto mostrando os dois, lado a lado, foi compartilhada por pelo menos sete grupos, alcançando mais de 5 mil diferentes usuários. O texto diz que Paes é “aliado de Lula” e que nomeou Chiquinho como secretário da prefeitura. Omite, no entanto, o fato de que ele deixou a pasta em fevereiro.
Na coletiva em que falou sobre as prisões de hoje, o ministro Lewandowski destacou que o caso Marielle foi resolvido no primeiro ano do governo Lula por determinação de seu antecessor na pasta da Justiça, Flávio Dino, e pelos esforços da Polícia Federal, após o fim do governo Bolsonaro. 
De acordo com a investigação, no entanto, a causa do assasinato da vereadora não tem conexão com a política nacional, mas sim com um projeto de lei de interesse dos Brazão na cidade do Rio de Janeiro.

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