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Relatório dos EUA contra Moraes amplifica fakes sobre fraude nas eleições
18.04.2024 - 18h10
João Pessoa - PB
A narrativa desinformativa sobre fraude nas eleições de 2022 ganhou novo fôlego com a divulgação, por congressistas norte-americanos, de relatório com decisões sigilosas do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nas redes, o discurso é de que o documento seria a prova de que as eleições foram fraudadas e tiveram interferência e que, por isso, deveriam ser anuladas.
Levantamento feito pela Lupa a partir de dados coletados pelo monitor da Palver em grupos públicos do WhatsApp e Telegram mostra que esses conteúdos podem ter alcançado mais de 57 mil diferentes usuários desses dois aplicativos, entre quarta (17) e a tarde desta quinta-feira (18). Dentre os exemplos está um vídeo publicado em um grupo com 776 usuários, cuja legenda afirma que o documento divulgado é a prova de que o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deram "um golpe nas eleições de 2022". 
Publicação usa documento divulgado por congressistas norte-americanos para afirmar que a eleição de 22 foi um golpe
A tese de "censura" também foi levantada por parlamentares bolsonaristas, a exemplo do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), que publicou em sua conta no X (antigo Twitter) um print de um post que foi retirado do ar por decisão de Alexandre de Moraes. "Um exemplo do que foi censurado", postou Gayer. A publicação, que às 10h de quinta-feira (18) tinha mais de 400 mil visualizações, contudo, continha divulgação de conteúdo enganoso sobre fraude. "Explica isso, Xandão!!! Bolsonaro em São Gabriel da Cachoeira em 27/05, onde obteve ZERO votos???". 
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou nota em novembro de 2022 desmentindo esse boato. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve no primeiro turno 3.733 votos, ou seja 17,52% dos votos válidos registrados na cidade. No segundo turno, Bolsonaro recebeu 4.103 votos, 19,36% do total de votos. 
Post de Gayer traz informação enganosa sobre eleição de 2022
Intitulado "O ataque contra liberdade de expressão no exterior e o silêncio da administração Biden: o caso do Brasil", o documento de 541 páginas foi divulgado na quarta-feira (17) pela Comissão Judiciária do Congresso dos Estados Unidos, presidida pelo republicano Jim Jordan, aliado do ex-presidente Donald Trump. Segundo o relatório, o STF e o TSE ordenaram a suspensão ou remoção de quase 150 contas no X desde ao menos 2022.
Nas redes, bolsonaristas estão aproveitando a divulgação do relatório para pedir anulação das eleições de 2022. Alguns usuários inclusive defendem que a tentativa de golpe de Estado por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro era plausível diante da "clara interferência do judiciário nas eleições". "[...] Houve primeiro um golpe por parte do judiciário brasileiro, então não seria um golpe, mas sim um contragolpe [por parte de Bolsonaro]", postou um usuário.  
Post afirma que interferência do judiciário nas eleições justificaria golpe de Bolsonaro
Outro usuário, inclusive, defende a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro Alexandre de Moraes. "Não fossemos uma república de bananas, a eleição de 22 seria anulada, e teríamos um novo pleito em 90 dias. A inelegibilidade do @jairbolsonaro seria anulada, @LulaOficial e @alexandre dividiriam uma cela por fraude e estupro do estado democrático de direito", escreveu.

Narrativa sobre fraude nas urnas

Conteúdos falsos já desmentidos pela Lupa sobre fraude nas urnas voltaram a circular nos grupos de Telegram e WhatsApp por causa da divulgação do relatório.
Entre os exemplos há um vídeo publicado em um grupo com mais de 700 usuários diferentes, em que uma mulher mostra o terminal do mesário enquanto um dos eleitores vai à urna eletrônica votar. Após a computação do voto, ela diz que o eleitor votou duas vezes, sendo um voto para cada candidato à Presidência nas eleições de 2022: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). É falso.  
Vídeo falso sobre fraude nas urnas volta a circular após divulgação de relatório por congressistas norte-americanos
Segundo a Justiça Eleitoral, no terminal do mesário não há indicação de quem o eleitor votou, mesmo sem o nome do candidato. Essa informação só fica disponível após final do pleito, quando é impresso o Boletim de Urnas (BU), que contém todos os votos registrados na respectiva urna, incluindo brancos e nulos.
Um outro vídeo já desmentido que voltou a circular alegava fraude nas urnas. Como prova, o narrador insinuou que, a cada 12% das urnas apuradas, Lula subia 1% e Bolsonaro caía 0,5% — sugerindo que os votos foram programados anteriormente. Os resultados parciais de Bolsonaro e Lula mostrados no registro são falsos e, portanto, não é possível observar qualquer tendência “regular” ou “programada” de queda e crescimento na votação dos candidatos durante a totalização dos votos.
O TSE ressalta que o processo de totalização dos votos é realizado na medida em que os dados dos Boletins de Urna (BUs) são enviados. "Ou seja, não há uma ordem pré-definida de quais localidades ou regiões terão os votos totalizados em primeiro ou em último lugar. Da mesma forma, não existe nenhum algoritmo programado para ditar a porcentagem atingida por cada candidatura ao longo do processo de soma dos votos", explica.
Vídeo falso alega que votos do 1º turno foram programados por algoritmo, o que é falso

Embate entre Musk e Moraes alimentou conspirações

As acusações de Elon Musk contra o ministro Alexandre de Moraes também deram gás a uma série de outras teorias conspiratórias, segundo levantamento da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV. Dentre elas, a de que Moraes estaria atuando contra Musk em parceria com a Meta. 
"A Meta fez parceria com o TSE, cuja eleição foi presidida pelo ministro Alexandre de Moraes [...]. Diante desses fatos, é muito surreal imaginar que a Meta poderia estar trabalhando em conjunto com outras pessoas para aniquilar a rede X", diz um dos posts monitorados pela FGV. 
Exemplos de publicações enganosas monitoradas pela FGV sobre embate Elon Musk e Alexandre de Moraes
Também foi levantada a hipótese de que Moraes estaria agindo em prol do empresário George Soros. "O argumento de fraude nas urnas em 2022 volta a ser associado ao debate, fortalecendo a ideia de suposta parceria entre Soros, Lula e Moraes", diz a FGV. O bilionário costuma ser alvo de peças de desinformação, que vão desde falsas ligações com determinados movimentos ambientalistas até teorias da conspiração sobre Covid-19

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Nota: Este conteúdo faz parte do projeto Mídia e Democracia, produzido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI) em parceria com Democracy Reporting International e a Lupa. A iniciativa é financiada pela União Europeia.
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