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Influenciador português mente ao afirmar no Senado que houve fraude nas urnas
01.05.2024 - 11h17
João Pessoa - PB
Circula nas redes sociais trecho de um vídeo de uma audiência realizada pela Comissão de Segurança Pública do Senado Federal em que o influenciador português Sérgio Miguel de Gomes Tavares afirma que houve fraude nas eleições de 2022. Segundo ele, uma reportagem da TV Globo mostrou que hackers numa convenção em Las Vegas teriam hackeado urnas do modelo brasileiro em poucos minutos. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
[...] Obviamente que houve com todas as letras fraude eleitoral no Brasil e houve fraude em diferentes frentes. Houve fraude nas urnas porque, em 2019, a Globo noticiou que hackers numa convenção em Las Vegas [...] hackearam urnas no modelo brasileiro em poucos minutos, portanto, não são confiáveis
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Ao contrário do que afirma o influenciador português, não houve qualquer teste de urnas brasileiras no evento de hackers citado no vídeo. Além disso, não há qualquer prova de fraude desde que as urnas eletrônicas foram adotadas em 1996, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
Em 2017, dois técnicos da Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE participaram da DefCon — conferência hacker que ocorre todo ano em Las Vegas (Estados Unidos). O objetivo da visita era o de conferir os trabalhos da primeira Voting Machine Hacking Village, um espaço reservado dentro da conferência para que hackers tentassem atacar modelos de urnas eletrônicas utilizadas nos Estados Unidos. Entretanto, as urnas eletrônicas brasileiras não foram testadas. 
À época, os técnicos do TSE afirmaram que a ideia era observar o funcionamento do evento e das urnas utilizadas nos EUA. “Fomos observar tanto a organização do evento em si, com vistas a aprimorar o Teste Público de Segurança (TPS) que, de certa forma, é a versão do evento realizada pelo TSE desde 2009 para as urnas nacionais. Quanto também buscar identificar se alguma das vulnerabilidades encontradas lá teria paralelo nas urnas brasileiras. Em momento algum participamos de testes sobre os equipamentos daquele país”, disse um dos técnicos. 
O TSE, ao desmentir o boato citado pelo influenciador português, explica que os modelos testados no evento são usados somente nos Estados Unidos. Além disso, não é possível hackear as urnas brasileiras. "Uma invasão hacker também é uma hipótese improvável, pois a urna brasileira é um dispositivo isolado, sem conexão com a internet", lembra o tribunal. 
Em 2021, a Lupa verificou um vídeo que circulou no WhatsApp que mostrava jornalistas do programa Estúdio I, da GloboNews, noticiando que as urnas eletrônicas teriam sido hackeadas em menos de duas horas em um evento nos Estados Unidos. Entretanto, o vídeo tinha sido editado. Um trecho do registro havia sido excluído, em que um dos jornalistas dizia que “não se sabe” se equipamentos brasileiros foram hackeados no evento. Posteriormente, o TSE respondeu as dúvidas e afirmou que nenhuma máquina brasileira foi testada na ocasião.

[...] Fernando Cerimedo provou [que houve fraude nas urnas]. Eu tenho esse relatório comigo em Portugal com todos os dados, não em todas as urnas, mas nas urnas anteriores a 2020
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
O influenciador argentino Fernando Cerimedo, apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), nunca mostrou provas concretas de fraude nas urnas nas eleições de 2022. Ele chegou a afirmar em um vídeo que chegou até as suas mãos um relatório secreto que provava irregularidades. Segundo ele, houve uma diferença de votos para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre as urnas de 2020, em relação às mais antigas. De acordo com o argentino, nas urnas de 2020 auditadas, Lula teria alcançado 80% da votação somente em 0,3% dos equipamentos. Já entre as urnas “não auditadas”, ou seja, entre as mais antigas, o petista teria alcançado a maior votação em 22% dessas máquinas. 
O documento citado no vídeo, no entanto, se trata de um material apócrifo que já foi amplamente desmentido
Todas as urnas usadas nas eleições de 2022 passaram por auditoria e fiscalização. Diferentemente do que foi citado no vídeo, essas auditorias incluíram equipamentos antigos e não apenas os de 2020. O TSE informou que os modelos mais velhos de urnas já passaram por “diversas análises e auditorias”, entre elas a realizada pelo PSDB, em 2015, que concluiu que, nas eleições de 2014, não houve fraude. Também afirmou que os “equipamentos antigos já estão em uso desde 2010 (para as urnas modelo 2009 e 2010) e todos foram utilizados nas eleições 2018”. Por fim, destacou que “o software da urna é único em todos os modelos, tendo sido divulgado, lacrado e assinado”.
Vale lembrar que diversas entidades e organizações atestaram a lisura das eleições presidenciais de 2022. Em 9 de novembro no ano passado, o Ministério da Defesa publicou o relatório de fiscalização do sistema eletrônico de votação. Em suas conclusões, o documento não aponta a presença de códigos maliciosos prejudicando a segurança do sistema. Outro relatório preliminar, do Carter Center – organização internacional não governamental sem fins lucrativos –, publicado em 4 de novembro de 2022, não apontou nenhuma irregularidade no processo eleitoral brasileiro.
O relatório preliminar da Missão Integrada de Observação Eleitoral da União Interamericana dos Órgãos Eleitorais (Uniore), publicado em 31 de outubro de 2022, também atestou a segurança do sistema eletrônico de votação. Já o relatório final do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), divulgado em novembro de 2022, reforçou que o processo eleitoral foi limpo e seguro. É possível consultar todos os relatórios das missões no site do TSE.
Checagem similar foi produzida por Aos Fatos e Estadão Verifica

Outro lado

Procurado por e-mail pela Lupa, o influenciador português Sérgio Miguel de Gomes Tavares não se pronunciou sobre as declarações do vídeo até a publicação desta verificação.

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