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Vai faltar arroz? Tire dúvidas sobre o preço e a oferta do grão no Brasil
24.05.2024 - 17h33
Florianópolis - SC
O Rio Grande do Sul, principal produtor de arroz do Brasil, enfrenta uma tragédia climática que, até 24 de maio, atingiu 469 municípios e deixou 163 vítimas fatais. As lavouras do grão também foram afetadas. Um levantamento preliminar realizado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) revelou que 22 mil hectares foram perdidos, enquanto outros 18 mil ficaram parcialmente submersos. As perdas geraram especulações sobre um possível desabastecimento do cereal em todo o país.
Essas especulações, por sua vez, alimentaram uma onda de conteúdos desinformativos e alarmistas. Entre os boatos que circularam, por exemplo, estava um post que sugeria que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iria importar arroz sintético da China para suprir a demanda interna — o que não é verdade.  
Embora as conjecturas sobre alta do preço nas prateleiras dos supermercados tenham se confirmado — em alguns estados, como Minas Gerais, houve registros de um aumento de 20% —, a hipótese de que o arroz irá faltar no Brasil é descartada tanto pelo governo quanto por produtores. Isso porque a maior parte da safra deste ano já havia sido colhida e o governo federal anunciou incentivo à importação de grãos de outros países. Além dos fornecedores  tradicionais, como Paraguai, Uruguai e Argentina, o país também irá comprar da Tailândia. Vale pontuar que essa medida do governo foi duramente criticada por produtores
Reunimos, a seguir, as principais dúvidas sobre o abastecimento de arroz no país. Confira:

Problemas na safra do Rio Grande do Sul podem afetar o abastecimento de arroz no Brasil?

Cerca de 70% do arroz nacional é produzido no Rio Grande do Sul. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) garante que, se levar em consideração a safra atual, não haverá desabastecimento do grão. Em 21 de maio, o Irga informou que a safra de 2023/2024 do arroz gaúcho está estimada em 7.149.691 de toneladas, mesmo com as perdas causadas pelas inundações. 
A quantidade é similar à safra de 2022/2023, quando foram colhidas 7.239.000 toneladas. O montante atual, afirma o Irga, “é suficiente para abastecer o mercado brasileiro”. O Instituto gaúcho também argumenta que a importação não seria necessária.
Em abril, antes das enchentes, essa projeção já tinha sido feita pelo Irga. Segundo o instituto, 84% da safra de arroz já estava colhida quando as inundações começaram. Restavam ainda 142 mil hectares a serem colhidos — desse total, 22 mil hectares foram perdidos e 18 mil ficaram parcialmente submersos.  

Outros Estados podem suprir a demanda do Brasil por arroz?

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apesar da perda de parte dos grãos gaúchos — estimada pelo órgão em 8% —, a previsão é que o total da safra nacional seja 4,6% maior que a do ano anterior. 
No 8º levantamento da safra de grãos 2023/24 (página 14), divulgado em 14 de maio, a Conab detalhou que na safra anterior (2022/2023) foram produzidas 10,031 milhões de toneladas. Já na safra atual, a estimativa é de 10,49 milhões de toneladas. Diante das estimativas, o presidente da Conab, Edegar Pretto, afirmou em 17 de maio que o país não enfrenta risco de desabastecimento
Depois do Rio Grande do Sul, Santa Catarina é o segundo entre os estados que mais produz arroz no Brasil, com a safra 2023/2024 estimada em 1,24 milhão de toneladas. Em terceiro lugar, está o Tocantins (568 mil toneladas), seguido de Mato Grosso (316 mil toneladas), Maranhão (165 mil toneladas) e Paraná (139 mil toneladas). 

O que são os leilões de compra de arroz da Conab? 

Embora produtores gaúchos e o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, tenham afirmado que a oferta de arroz era suficiente para abastecer o país, o governo federal autorizou a Conab, por meio meio de uma medida provisória (MP 1217/2024), a importar até um milhão de toneladas de arroz por meio de leilões públicos ao longo de 2024.
O primeiro edital para os leilões foi publicado em 15 de maio para a compra de cerca de 104 mil toneladas de arroz importado. Na ocasião, a Conab explicou que esses grãos seriam vendidos aos consumidores a um preço máximo de R$ 4 o quilo e seriam embalados em um pacote especial do governo federal com a identificação do preço máximo a ser cobrado nas prateleiras dos mercados. 
O primeiro leilão de compra estava agendado para 21 de maio, mas foi suspenso um dia antes. Em nota, a Conab apenas indicou que nova data de realização “será publicada oportunamente”.
Mesmo com leilão suspenso, o governo anunciou que vai manter a compra de arroz importado. Os novos detalhes ainda não foram anunciados, mas a previsão é que o grão seja comprado da Tailândia. 
Vale destacar que a iniciativa de importar arroz foi criticada pelo setor, embora os defensores aleguem que o governo agiu de forma preventiva. Em audiência na Câmara dos Deputados em 22 de maio, o ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, defendeu as medidas adotadas para manter a oferta e os preços do arroz no mercado nacional. “O Brasil produz praticamente o suficiente para consumir, mas o descasamento momentâneo dá margem à especulação, e quem vai ganhar não é o produtor rural, é o especulador. Precisamos combater isso”, disse.  

De onde vem o arroz importado pelo Brasil?

A produção nacional supre praticamente toda a demanda de consumo do mercado interno brasileiro. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), períodos de seca excessiva ou muita chuva podem interferir nos cultivos. Quando isso ocorre, para suprir a demanda e evitar pressão sobre o preço, o país recorre à importação do produto para abastecer estoques. Entre 2017 e 2022, o arroz importado representou uma média de 10% do consumo nacional.
Entre 80% a 98% do arroz importado no Brasil vem de países da América do Sul, especialmente do Paraguai, Uruguai e Argentina. As negociações com esses países do Mercosul são isentas da tarifa de importação. 
Em 20 de maio, o governo aprovou uma proposta para zerar o imposto de importação de três tipos de arroz para facilitar a compra de outros grandes produtores, como a Tailândia. 
Vale ressaltar que, em 8 de maio, a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) já havia se mobilizado e negociado a compra de 75 mil toneladas de arroz tailandês. Na ocasião, a diretora-executiva da Abiarroz, Andressa Silva, alegou que a ação era uma forma de “aumentar a oferta, garantir o abastecimento e segurar preços". A previsão é que esses grãos cheguem ao Brasil na primeira quinzena de julho.  

O preço do arroz vai subir? 

O preço do arroz já estava numa crescente desde meados de 2023. Só no ano passado, o valor do cereal tinha subido mais de 38% até dezembro. Dentre as razões para a alta no ano passado, estavam desde a escassez do cereal no RS — que em 2023 sofreu com a seca — até as restrições de exportações de arroz pela Índia, que tentou conter a inflação, e ainda baixas na safra da Tailândia. Todos esses fatores pressionaram os preços. 
A partir do final de janeiro de 2024, o preço do alimento começou a cair e chegou ao menor valor em sete meses no início de abril deste ano. No final do mesmo mês, o preço voltou a subir, ainda antes da tragédia no RS. 
Já em maio, monitoramento feito pela consultoria Horus mostrou que, em uma semana, o valor do quilo do grão para o consumidor subiu 6%, chegando a R$ 6,46 em média em 12 de maio, já durante a crise climática no estado gaúcho.
Monitor de preço do arroz feito pelo Cepea / USP - Imagem: reprodução
Com as chuvas no estado que mais produz o grão e especulações sobre um possível desabastecimento, dados monitorados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), com foco nos negócios entre produtores, indústria e cooperativas,  indicaram uma nova alta entre final de abril e meados de maio.
De acordo com a análise mais recente dos pesquisadores do Cepea, publicada em 20 de maio, os preços do arroz tiveram uma maior alta na segunda semana de maio em razão do aumento na procura por parte de compradores, tendo em vista os riscos de menor quantidade de produto no mercado, e vendedores mais retraídos diante da instabilidade, o que pode resultar em maior valorização do grão.
Enquanto isso, em alguns estados, pesquisas mostram que o preço já está mais caro. Em Minas Gerais, nas três primeiras semanas de maio, o valor do pacote de arroz subiu mais de 20% nas prateleiras dos principais supermercados da capital Belo Horizonte. Já no Ceará, na primeira semana de maio, foi registrado um aumento de 5%.

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Ítalo Rômany
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