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Pesquisa de universidade da Holanda não prova relação entre mortes e vacinas da Covid-19
10.06.2024 - 17h09
Florianópolis - SC
Circula pelas redes sociais que pesquisadores teriam relacionado um número elevado de mortes, em mais de 40 países, às vacinas da Covid-19. A informação é baseada no conteúdo de um site brasileiro segundo o qual estudiosos da Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda, sugerem que as vacinas contra o SARS-CoV-2 teriam contribuído para o aumento das mortes em excesso após a pandemia. 
É falso. A pesquisa em nenhum momento afirma que o aumento de mortalidade registrado em alguns países foi causado por imunizantes. 
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
“MORTES APÓS VACINAS
Estudo sobre mortes levanta dados preocupantes
Pesquisadores de universidade da Holanda analisaram dados de 47 países e ficaram preocupados”
– Texto em vídeo que circula em grupos de WhatsApp
Falso
A pesquisa citada foi publicada em 3 de junho no periódico científico britânico The BMJ (sigla para British Medical Journals) por pesquisadores da Vrije Universiteit (Universidade Livre de Amsterdã), na Holanda. Embora analise as mortes durante e após a pandemia do novo coronavírus, em nenhum momento os autores confirmam qualquer relação direta entre esses óbitos e as vacinas da Covid-19. 
Na verdade, os pesquisadores chamam a atenção para o fato de que foi registrado um “excesso de mortalidade” em mais de 40 países no período entre 2020 e 2022 se comparado ao histórico de mortes entre os anos 2015 até 2019 — apesar das vacinas, e não por causa delas.
O estudo não aponta nenhuma causa específica para o “excesso de mortalidade”, apenas analisa que houve, sim, um aumento de mortes e apresenta uma série de estudos sobre os possíveis fatores. Nesse sentido, os motivos das mortes apresentados no estudo são variados e, em nenhum momento, os autores associam a mortalidade identificada diretamente aos imunizantes. 
Dentre as causas mapeadas, por exemplo, eles citam um estudo de 2023, feito nos Estados Unidos, que identificou aumento de mortes provocadas por doenças cardíacas, diabetes e até Alzheimer nos dois primeiros anos da pandemia. Eles também destacam que “foram registrados grandes aumentos nas mortes relacionadas com o álcool e uso de drogas”.
Trecho em destaque do estudo cita pesquisa feita nos Estados Unidos sobre mortalidade sem relação à Covid nos dois primeiros anos da pandemia: “maior número de mortes em excesso foi causado por doenças cardíacas, 6% acima do valor basal durante ambos os anos. A mortalidade por diabetes foi 17% acima da linha de base durante o primeiro ano e 13% acima dela durante o segundo ano. A mortalidade por doença de Alzheimer foi 19% superior no ano 1 e 15% superior no ano 2. Em termos de percentagem, foram registrados grandes aumentos nas mortes relacionadas com o álcool (28% acima dos valores iniciais durante o primeiro ano e 33% durante o segundo ano) e mortes relacionadas com drogas" - Imagem: reprodução

Como foi feito o estudo

Os autores basearam-se em relatórios de mortalidade por diferentes causas feitos pela plataforma Our World in Data. No total, eles avaliaram informações de mortes de 47 países entre 2020 e 2022. 
Para chegar à conclusão de que houve aumento de mortalidade nesse período, os pesquisadores usaram um modelo de estimativa específico que utiliza dados históricos de mortes nos países avaliados entre os anos de 2015 a 2019,  incluindo variação sazonal e tendências anuais da mortalidade, para comparar. 
Eles então chegaram ao resultado de que o número total de “mortes em excesso” nas 47 nações cujos dados foram avaliados foi de mais de 3 milhões no período analisado (2020 a 2022) em comparação ao período anterior, ou seja, 2015 a 2019.  

O que a pesquisa fala sobre as vacinas

Após a apresentação dos resultados, a pesquisa publicada no The BMJ apresenta uma série de discussões importantes sobre as possíveis causas do aumento de mortalidade registrada entre 2020 e 2022. Um dos pontos levantados, por exemplo, é o fato de que a qualidade e o rigor dos registros nacionais de mortalidade variam em cada país e alguns podem não documentar com precisão a causa da morte.
Também foi pontuado que “falta consenso na comunidade médica sobre quando um falecido infectado com Covid-19 deve ser registrado como uma morte pela doença” e ainda que os efeitos indiretos das medidas de contenção em cada país “provavelmente alteraram a escala e a natureza da carga da doença para inúmeras causas de morte desde a pandemia”.
Especificamente sobre as vacinas, a pesquisa pontua que existe, sim, subnotificação de eventos adversos, incluindo mortes, após a imunização. E expressa preocupação em relação à falta de dados para uma análise mais aprofundada sobre possíveis relações causais entre mortes e vacinas. Em nenhum momento, contudo, os autores confirmam que existe relação direta de mortalidade, apenas expressam a necessidade de mais estudos. 
Sobre esse tema, uma das questões discutidas é a de que “falta consenso na comunidade médica em relação aos danos que as vacinas de mRNA podem ou não causar”, por exemplo. 
Os autores também enfatizam que muitos governos não conseguem divulgar dados detalhados por causa de mortalidade e que a ausência desse tipo de informação em alguns países “deriva do procedimento demorado envolvido, o que implica reunir certidões de óbito, codificar diagnósticos e julgar a origem subjacente da morte” — situação comum, segundo o estudo, mesmo antes do início da pandemia.
Por fim, os autores enfatizam que o estudo não é conclusivo e tem “várias limitações significativas”, entre elas o fato de que relatórios de óbito podem estar incompletos em razão de atrasos. 
Trecho final evidencia que o estudo tem limitações significativas e que, em alguns países, os registros de mortes podem levar semanas, meses ou até anos. Imagem - Reprodução 

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