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Nas redes, Kamala vira ‘fantoche do Estado Profundo’ após apoio de filho de Soros
Elevada a potencial candidata do Partido Democrata à Casa Branca na eleição de novembro, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, transformou-se no último domingo (21) no mais novo alvo da teoria conspiracionista do "Estado Profundo" (Deep State). Em cerca de oito horas, logo após Joe Biden anunciar sua renúncia à candidatura à reeleição, Harris apareceu em milhares de publicações em redes sociais e aplicativos de mensagem como um "fantoche" de uma elite global imaginária e ultra conectada que, sem jamais ter sido eleita, teria o poder de interferir e decidir o futuro do mundo em momentos-chave. 
Muitas publicações usavam como "prova" dessa teoria um post do bilionário e filantropo Alexander Soros, filho do banqueiro e também filantropo George Soros, no X (ex-Twitter). Cerca de uma hora após o anúncio de Biden, Soros filho publicou uma foto ao lado de Harris, afirmando que "ela é a melhor e mais qualificada candidata" que os Democratas têm para a corrida presidencial deste ano. Quatro minutos mais tarde, Elon Musk, dono do X e conhecido apoiador (inclusive financeiro) do republicano Donald Trump, comentou o post sugerindo que Harris seria uma marionete da família.
As narrativas sobre o Estado Profundo ganharam oxigênio em diferentes plataformas de redes sociais e aplicativos de mensagem em inglês, espanhol e português. Dados da ferramenta de social listening Palver mostram que entre 15h e 21h de domingo pelo menos 472 mil usuários de WhatsApp e Telegram haviam recebido ao menos uma mensagem sobre Soros nos três idiomas. Desse total, 264 mil (ou 55%) haviam sido impactados por conteúdos em português que tratavam do filantropo, conectando-o a Harris.
Total de menções a 'Soros' em todos idiomas, segundo Palver
Total de menções a 'Soros' em português, segundo Palver
Em algumas das mensagens de teor conspiratório que circularam nos aplicativos de mensagem, o casal Bill e Hillary Clinton também era mencionado. Segundo as teorias, o noivado de Soros filho com uma assessora de Hillary e o apoio à campanha de Harris manifestado no domingo provariam a profunda conexão entre a família e os políticos, evidenciando sua influência na decisão dos rumos do planeta. Os Clinton são comumente citados em conteúdos sobre o Estado Profundo.
No Instagram, a ideia de que Kamala Harris não passa de um fantoche do Estado Profundo também apareceu. Uma única publicação sobre o assunto teve mais de 1.600 likes em apenas duas horas, afirmando que existe uma "quadrilha globalista jogando tudo nessa eleição" americana. 
"Um segundo mandato de Trump será o fim de décadas de reinado do casal bandoleiro [os Clinton] e seus aliados, que não terão a vida fácil em Trump 2 que tiveram em Trump 1. Soros é persona non grata em vários países europeus e tem uma base segura nos EUA, de onde distribui dinheiro para o que há de pior no mundo", afirma o post, sem mostrar qualquer prova.
No X e no Gettr, montagens mesclam o rosto de Harris ao de George Soros, promovendo a narrativa de que ela é ou será um fantoche da família milionária. Em outra montagem, Harris aparece com o rosto do ex-presidente Barack Obama, também em alusão a um suposto controle exercido por ele sobre a atual vice-presidente. Obama ainda não manifestou apoio formal a uma possível candidatura de Harris na corrida presidencial americana.
Apesar dos endossos de lideranças Democratas e figuras públicas, Harris não é oficialmente a candidata do partido Democrata na eleição à presidência dos Estados Unidos. O nome dela deverá ser analisado na convenção do partido, entre os dias 19 e 22 de agosto, na cidade de Chicago. 

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Ítalo Rômany
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