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Fosfoetanolamina não tem eficácia contra o câncer
01.08.2024 - 15h00
João Pessoa - PB
Voltou a circular nas redes sociais a informação de que a fosfoetanolamina tem eficácia no combate ao câncer. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
Pacientes com câncer têm entrado na Justiça para conseguir uma substância desenvolvida no Instituto de Química da USP, em São Carlos. Ela tem apresentado resultados positivos contra a doença. Um pesquisador da USP de São Carlos descobriu uma substância que trata a doença sem deixar sequelas, sem enfraquecer o sistema imunológico, sem mutilações e sem causar a queda de cabelos. Mais de 800 portadores de câncer já utilizaram o remédio. Todos os pacientes obtiveram excelentes resultados
– Trecho de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
Não há qualquer eficácia comprovada da fosfoetanolamina contra o câncer. Em março de 2017, o então diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Paulo Hoff, divulgou comunicado em que afirma que o Icesp não comprovou a eficiência da substância contra a doença durante um estudo clínico. "Como o tratamento com fosfoetanolamina não teve os resultados mínimos exigidos, os médicos decidiram não incluir novos pacientes na pesquisa", diz trecho do comunicado. 
Dos 72 pacientes tratados no estudo, divididos em 10 grupos de tipos de tumores (cabeça e pescoço, pulmão, mama, intestino, colo uterino, próstata, melanoma, pâncreas, estômago e fígado), somente um deles, do grupo de melanoma (tipo de câncer de pele), apresentou resposta parcial. Entretanto, o resultado não foi suficiente para comprovar a eficácia da substância.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em comunicado publicado em julho deste ano, voltou a reforçar que não há estudos clínicos capazes de comprovar a eficácia e segurança da fosfoetanolamina contra o câncer. Além disso, a substância não tem registro na agência e não deve ser usada nem como suplemento alimentar. 
"Utilizar produtos não registrados pela Anvisa para o tratamento do câncer é extremamente arriscado. Esses produtos podem interferir negativamente nos tratamentos convencionais, além de apresentar riscos de contaminação. É fundamental que os pacientes não abandonem tratamentos médicos estabelecidos para utilizar terapias não autorizadas e de eficácia desconhecida, como é o caso da fosfoetanolamina", alertou a Anvisa, em seu comunicado. 
Em outubro de 2015, a Universidade de São Paulo (USP) publicou nota explicando que, por causa de liminares judiciais, a instituição foi obrigada a fornecer a fosfoetanolamina aos pacientes que entraram na Justiça. Entretanto, reforçou em seu comunicado que a substância não era remédio. "Ela foi estudada na USP como um produto químico e não existe demonstração cabal de que tenha ação efetiva contra a doença: a USP não desenvolveu estudos sobre a ação do produto nos seres vivos, muito menos estudos clínicos controlados em humanos", diz trecho do texto. 
O que é a fosfoetanolamina
A “pílula do câncer”, como ficou conhecida, foi criada por Gilberto Orivaldo Chierice, professor aposentado do Instituto de Química da USP, que faleceu em 2019. Apesar de não ter passado por testes clínicos que comprovassem sua eficácia em humanos, a substância foi distribuída gratuitamente por 20 anos pelo professor com a promessa de que curaria o câncer.
Em 2015, pacientes com câncer entraram na Justiça para obrigar a USP a fornecer as cápsulas de fosfoetanolamina sintética. No mesmo ano, após ação movida pela universidade, o Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu o fornecimento do produto pela falta de comprovação científica quanto ao seu efeito ou segurança. 
Em 2016, a então presidente Dilma Rousseff (PT) autorizou o uso da substância para o tratamento de pacientes com câncer, a partir da Lei n.º 13.269, de 13 de abril de 2016. Contudo, em outubro de 2020, o Supremo Tribunal Federal considerou a norma inconstitucional. Isso porque compete à Anvisa aprovar ou não medicamentos, com base em provas científicas

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João Pedro Capobianco
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