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No Roda Viva, Datena erra sobre a população negra em SP e repete fake sobre Lula
O apresentador José Luiz Datena (PSDB) foi o primeiro candidato à prefeitura de São Paulo a ser sabatinado no programa Roda Viva, da TV Cultura. Em entrevista na noite do dia 12 de agosto, ele reconheceu que ainda não sabe quem são as pessoas que integram a equipe responsável por seu plano de governo. 
O candidato foi questionado sobre suas propostas para segurança, educação, mobilidade e saúde, entre outros, e respondeu de forma genérica sobre alguns dos planos — como as políticas para mulheres, por exemplo. Datena errou sobre a população negra na capital paulista e repetiu um boato amplamente desmentido sobre uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relacionada a roubos de celular. 
Depois de Datena, os outros quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas — o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), o influenciador Pablo Marçal (PRTB) e a deputada federal Tabata Amaral (PSB) — serão entrevistados no Roda Viva.
A Lupa checou algumas das declarações do candidato. A assessoria de imprensa de Datena foi procurada e as respostas enviadas pela equipe serão incluídas na checagem.
“Antigamente, no sistema corrupto funerário que existia em São Paulo — mas público — você gastava R$ 800 para enterrar uma pessoa”
– José Luiz Datena, candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 12 de agosto de 2024
Exagerado
“(...) Hoje [depois da privatização do Serviço Funerário Público de São Paulo] se gasta R$ 4.300”
– José Luiz Datena, candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 12 de agosto de 2024
Verdadeiro
Logo depois que o serviço funerário público da capital paulista foi concedido à iniciativa privada, em 7 de março de 2023, os preços dos serviços de sepultamento aumentaram em pelo menos 400% nos 22 cemitérios públicos e no crematório da Vila Alpina (na zona leste) da capital paulista. 
De acordo com levantamento do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), em janeiro de 2024, dez meses após a privatização, os preços de alguns serviços nos cemitérios públicos variaram entre R$ 3.250 e R$ 4.613,25.
A concessão, com duração de 25 anos, é compartilhada por quatro consórcios: Consolare, Cortel, Grupo Maya e Velar.
“A prefeitura ganha R$ 4 milhões por dia (...) de multas”
– José Luiz Datena, candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 12 de agosto de 2024
Verdadeiro
Segundo balanço do Fundo Nacional de Desenvolvimento de Trânsito (FNDT), em 2023 a prefeitura de São Paulo arrecadou R$ 1,6 bilhão em multas de trânsito. Esse valor equivale a uma média de R$ 140,3 milhões por mês ou R$ 4,6 milhões por dia. 
“População negra [em São Paulo] (…) é maior”
– José Luiz Datena, candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 12 de agosto de 2024
Falso
A população autodeclarada branca é maioria na cidade de São Paulo, representando 54,3% da população. Os negros representam 43,5% dos paulistanos, conforme estudo da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento de São Paulo, feito a partir de dados da última edição do Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  
Em 2022, a cidade alcançou uma população de 11.451.999 pessoas. Dentre elas, 6.214.422 (54,3%) se identificavam como brancas; 4.980.399 (43,5%) como negras — grupo formado por pretos e pardos; 238.603 (2,1%) como amarelas; e 17.727 (0,2%) como indígenas.
“Hospital [municipal], por exemplo, tem 27”
– José Luiz Datena, candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 12 de agosto de 2024
Verdadeiro
A cidade de São Paulo possui 27 hospitais municipais, de acordo com dados da 
da Coordenadoria de Informação em Saúde de São Paulo, atualizados em 8 de março de 2024. É possível conferir a lista completa neste link
Desse total, 12 têm administração direta, 13 estão sendo geridos por organizações sociais, um está sob um termo de colaboração entre uma organização da sociedade civil e a prefeitura (Amparo Maternal) e outro é uma autarquia (Hospital do Servidor Público Municipal) — este último, no entanto, é de uso exclusivo dos funcionários públicos municipais e seus dependentes.
“Chegou a ser dito até pelo nosso presidente da república que [o roubo de celular] era um roubo de menor importância, que o cara roubava um celular e ia tomar uma cervejinha”
– José Luiz Datena, candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 12 de agosto de 2024
Falso
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) jamais declarou que o roubo de celular tem menor importância e que ladrões usam o dinheiro obtido com o crime para tomar cerveja. Trata-se de um boato antigo, que teve origem em um vídeo manipulado já desmentido pela Lupa em 2020 e por outros veículos, como Reuters e AFP Checamos
A história foi criada a partir de uma entrevista concedida por Lula, Gleisi Hoffmann (PT) e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) a duas rádios universitárias de Pernambuco, em 25 de agosto de 2017. Pedaços de diferentes frases ditas pelos três entrevistados foram editados para dar a impressão que eles fizeram afirmações absurdas na ocasião — incluindo a falsa declaração citada por Datena.  
Quando questionado sobre a violência em Pernambuco, Lula disse que a falta de perspectiva econômica das pessoas estava levando ao aumento no número de crimes. “Para que [uma pessoa vai] roubar um celular? Para vender. Para ganhar um dinheirinho. Então eu penso que essa violência que está em Pernambuco é causada pela desesperança”, disse.
Logo depois dessa fala, ele fez uma metáfora sobre o ódio no país usando times locais. “O ódio está disseminado no país. (…) É preciso distensionar, para a sociedade perceber que a torcida do Santa Cruz e do Sport não são inimigas, são adversárias durante o jogo. Depois vão para o bar tomar uma cerveja junto”. Essas frases podem ser ouvidas a partir dos 13 minutos de vídeo original da entrevista, compartilhada por Lula no Facebook.
É válido citar que a história falsa chegou a ser usada em uma peça publicitária da campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, que foi suspensa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ser enganosa.  

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Maiquel Rosauro
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