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Ancelmo Gois não é autor de texto que liga máfia carioca a Eduardo Paes
22.08.2024 - 16h01
Poços de Caldas (MG)
Circula pelas redes sociais um texto sobre o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), no qual ele é retratado como “o maior mafioso da história do Rio de Janeiro”. A autoria do texto, intitulado “Máfia carioca”, é atribuída ao jornalista Ancelmo Gois e diz-se que o texto foi publicado no jornal O Globo. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​: 
“Olha a coragem do Anselmo Góis, especialmente porque escreveu em O Globo! Máfia carioca”
– Texto que acompanha publicação viral nas redes sociais
Falso
O texto “Máfia Carioca” não foi escrito por Ancelmo Gois, nem publicado em O Globo. Uma busca no blog que o jornalista mantém no jornal não oferece resultados associados ao texto. Pelo buscador do Google, a expressão “máfia carioca” também não apresenta resultados que tenham sido veiculados no blog.
Alguns indícios de que a autoria foi falseada podem ser percebidos na frase inicial que acompanha o texto nas publicações virais: o nome do jornalista foi escrito com a letra “s” (Anselmo) e com acento agudo no sobrenome do autor (Góis). A grafia correta é: Ancelmo Gois.
Em dezembro de 2023, a autoria do texto foi checada por Boatos.org. Além de o autor não ser Ancelmo Gois, o texto apresenta acusações não comprovadas contra o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
[Eduardo Paes é] apoiador das milícias no Rio”.
– Texto que acompanha publicação viral nas redes sociais
Insustentável
Em 2006, Eduardo Paes foi candidato ao governo estadual do Rio de Janeiro pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e, durante entrevista ao programa RJTV 2ª edição, da TV Globo, comentou sobre áreas da capital fluminense em que o Estado havia perdido sua soberania. Na ocasião, o candidato elogiou a atuação da chamada “polícia mineira” (nome pelo qual as milícias eram conhecidas) em bairros como Jacarepaguá, na zona oeste da cidade.
“Você tem áreas em que o estado perdeu a soberania por completo. A gente precisa recuperar essa soberania. (...) Jacarepaguá é um bairro que a tal da polícia mineira, formada por policiais e bombeiros, trouxe tranquilidade para a população”, disse.
Em 2018, o comentário voltou à tona durante as eleições ao governo estadual e a assessoria de Paes informou que sua fala havia sido deturpada e que “o que foi dito na época pelo candidato é que impressionava o fato de policiais quando estavam sem farda conseguirem dominar uma comunidade já dominada pelo crime e quando estavam fardados não”.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em fevereiro de 2022, Eduardo Paes foi questionado sobre a fala e se defendeu. O prefeito do Rio de Janeiro disse que foi mal interpretado e que já havia se desculpado pelas falas durante o pleito de 2006.
Com mais de 10 milhões de dólares em empresas fora do Brasil”.
– Texto que acompanha publicação viral nas redes sociais
Insustentável
Não há indícios que permitam afirmar que Eduardo Paes tenha mais de US$ 10 milhões em empresas fora do Brasil. Em depoimento durante a Operação Lava-Jato, em 2017, o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, disse que a empreiteira havia depositado US$ 5,75 milhões em contas no exterior para a campanha eleitoral de Eduardo Paes em 2012, na qual Paes terminou eleito prefeito do Rio de Janeiro.
O juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, considerou que não havia provas suficientes para afirmar que o dinheiro foi usado em campanha eleitoral. O caso foi enviado para a Justiça Federal, para apuração de crime comum. Em março deste ano, o ministro André Mendonça decidiu que o inquérito continuaria sob a alçada do Supremo Tribunal Federal (STF) e, na última terça-feira (20), o processo foi encaminhado para análise pelo juiz responsável.
O valor mencionado no texto viral é superior ao mencionado em delações, que não dizem respeito a empresas geridas por Paes. A Justiça, até o fechamento desta matéria, não considerou Paes culpado pelo recebimento ilícito dos US$ 5,75 milhões.
Os bens declarados por Eduardo Paes ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2024 somam R$ 185.668,74. No exterior, o candidato declara ter um saldo de R$ 2.313,56, divididos em dois depósitos bancários, nos valores de R$ 101,65 e de R$ 2.211,91.
“A Máfia do Rio e o Poder estão concentrados num único grupo mafioso, o grupo do Eduardo Paes”.
– Texto que acompanha publicação viral nas redes sociais
Falso
Não há evidências de que Eduardo Paes integra um grupo mafioso. Mesmo assim, não é possível afirmar que um único grupo concentra o poder no Rio de Janeiro.
Levantamento feito pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF) em parceria com o Instituto Fogo Cruzado e com o Disque-Denúncia aponta que, ao longo de 16 anos, a área controlada por grupos armados no Rio de Janeiro mais do que dobrou (crescimento de 105,73%). 
Grupos milicianos cresceram 204,6%, enquanto a facção Comando Vermelho cresceu 89,2%. A facção Terceiro Comando Puro cresceu 79,1% e a Amigos dos Amigos encolheu 75,8%.
O mapa dos grupos armados, desenvolvido pelo Geni/UFF e pelo Instituto Fogo Cruzado, aponta a atuação de, ao menos, cinco grupos paramilitares distintos no Rio de Janeiro.
“O dinheiro acumulado com as obras superfaturadas das Olimpíadas e os contratos de rachadinha do BRT, VLT e Linha Amarela estão FINANCIANDO A DITADURA DO DUDU”.
– Texto que acompanha publicação viral nas redes sociais
Falso
Eduardo Paes foi réu em uma ação de improbidade administrativa relacionada ao campo de golfe construído para os Jogos Olímpicos do Rio em 2016. O prefeito da capital fluminense era acusado de ter isentado a construtora Fiori Empreendimentos Imobiliários Ltda. do pagamento de uma licença ambiental.
Após o Ministério Público ter entrado com a ação, Paes reconsiderou a decisão e instruiu a cobrança do licenciamento à construtora. Em 2018, a 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro considerou que não houve prejuízo aos cofres públicos e extinguiu a ação.
Não há provas de que tenha havido “rachadinha” em obras e contratos do BRT, do VLT ou da Linha Amarela com o envolvimento de Eduardo Paes. Além disso, é falso que haja uma “ditadura” comandada por Paes no Rio de Janeiro.

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Catiane Pereira
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