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Lupa
Em Porto Alegre, Maria do Rosário (PT) erra ao comparar Ideb em capitais
Maria do Rosário (PT) foi a primeira candidata à prefeitura de Porto Alegre (RS) a ser sabatinada pela Rádio Gaúcha nesta semana. A deputada federal abriu a entrevista na manhã desta segunda (2) falando dos planos para prevenção e proteção contra cheias na capital gaúcha. Ela aproveitou a deixa para criticar as gestões do atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), e de seu antecessor, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), na condução das políticas de saneamento da cidade.
A petista errou ao comparar a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de Porto Alegre em relação a outras capitais, antes e depois da pandemia. Também tirou de contexto dados sobre os cargos ocupados no Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) e do início das obras de manutenção no sistema de proteção contra enchentes de Porto Alegre. 
Depois de Maria Rosário, outros candidatos serão sabatinados pela Gaúcha. Na terça-feira (3) é a vez do prefeito e candidato à reeleição Sebastião Melo (MDB).
A Lupa checou algumas das declarações de Maria do Rosário. A assessoria de imprensa da candidata foi procurada e as respostas enviadas pela equipe serão incluídas na checagem.
“Todas as capitais aumentaram, de antes da pandemia para agora, o Ideb”
– Maria do Rosário (PT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Falso
Praticamente todas as capitais tiveram queda na nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) entre 2019, antes da pandemia da Covid-19 (decretada em março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde), e em 2023. 
Se levar em consideração os anos finais do ensino fundamental na rede pública municipal, pelo menos 11 capitais também tiveram nota do Ideb menor em 2023 em relação a 2019, antes da pandemia da Covid-19. Teresina, por exemplo, tinha 6,3 em 2019 e caiu para 5,8 em 2023. Florianópolis caiu de 4,9 para 4,6.
“Porto Alegre caiu [a nota do Ideb desde a pandemia]”

– Maria do Rosário (PT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Falta contexto
A nota do Ideb de Porto Alegre é menor em 2023 em relação a 2019, antes da pandemia da Covid-19. De acordo com o Inep, a nota do Ideb da rede pública municipal de ensino para anos iniciais na capital gaúcha era 4,9 em 2019. Em 2021, subiu para 5,2 e voltou a cair em 2023, chegando a 4,7.  
Se considerar os anos finais da rede pública municipal, a nota da capital gaúcha era 3,7 em 2019, subiu para 4,8 em 2021 e voltou a cair em 2023, quando a nota ficou em 3,8 — ligeiramente acima da média de antes da pandemia. 
"Temos um dos principais pólos de saúde do Brasil aqui em Porto Alegre"
– Maria do Rosário (PT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Verdadeiro
Porto Alegre possui 34 hospitais e mais de 3 mil clínicas médicas. Estão na cidade sete dos 100 melhores hospitais do país, conforme a pesquisa World's Best Hospitals 2023: Moinhos de Vento (3º), Mãe de Deus (7º), Divina Providência (40º), Santa Casa de Misericórdia (56º), Hospital de Clínicas (78º), São Lucas (81º) e Hospital Conceição (89º).
A cidade está na 7ª posição no ranking das 50 melhores cidades do Brasil em estratégias inteligentes em saúde, produzido pela Urban Systems. Além disso, a região metropolitana de Porto Alegre concentra seis escolas de Medicina, com mais de 600 novas vagas para estudantes a cada ano.
“Temos 80 mil pessoas vivendo em encostas de morro, áreas alagadas, várzeas, que são [áreas de risco] perigosas”
– Maria do Rosário (PT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Verdadeiro
O relatório mais recente das áreas de risco de Porto Alegre, feito em 2022 pelo Serviço Geológico do Brasil, vinculado ao Ministério de Minas e Energia, identificou 142 áreas de risco na capital gaúcha. Nesses locais vivem cerca de 20.884 famílias  — o que equivale a cerca de 84.460 pessoas (página 40)
O levantamento indicou que houve um aumento em relação ao último monitoramento, feito em 2013, quando foram mapeadas 119 localidades em risco. Segundo o documento, as áreas consideradas perigosas são aquelas sujeitas a alagamentos, deslizamentos, enxurradas, erosão e inundação, entre outros, como as encostas de morro, por exemplo. 
“O Dmae [Departamento Municipal de Água e Esgotos], que já teve 3 mil funcionários, hoje tem mil”
– Maria do Rosário (PT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Falta contexto
De acordo com dados do Portal Transparência de Porto Alegre, o Dmae tem atualmente 1.037 servidores ativos — de um total de 3.632 cargos existentes. Em julho deste ano, 2.595 vagas não estavam preenchidas. 
Contudo, embora tenha mais de 3,6 mil cargos, isso não significa que o Departamento sempre teve esse total de vagas preenchidas. Em fevereiro de 2019, por exemplo, na gestão do ex-prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), antecessor do atual prefeito Sebastião Melo (MDB), o Dmae contava com 1.576 servidores ativos de um total de 3.634 cargos. Em 2007, o órgão chegou a ter cerca de 2,5 mil funcionários

“O Arroio Moinho, descendo o Campo da Tuca, já morreu pessoa ali em chuvas anteriores e não foi feito nada ao longo dos últimos anos”
– Maria do Rosário (PT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Verdadeiro
Daner Hernandez Silva, 45 anos, morreu após cair no Arroio Moinho, na noite de 15 de agosto de 2022, durante um temporal. Silva tentava salvar familiares quando ocorreu o acidente, próximo à Rua da Represa, no bairro Coronel Aparício Borges, na zona leste de Porto Alegre. O corpo percorreu toda a extensão do arroio e foi encontrado no dia seguinte, no Arroio Dilúvio, próximo ao Anfiteatro Pôr-do-sol
Em 8 junho de 2017, Carine Gonçalves, 35 anos, foi levada por uma enxurrada após o transbordamento do Arroio Moinho ter atingido sua casa, na Rua da Represa (na ocasião, em menos de um dia, Porto Alegre registrou 70% da chuva esperada para junho). O corpo foi encontrado seis dias depois, por um pescador, em uma área avançada do Lago Guaíba, após ter percorrido os arroios Moinho e Dilúvio. 
A Lupa não localizou nenhuma notícia na imprensa relatando obras de drenagem no Arroio Moinho nos últimos anos. Em 2019, foi noticiado que Porto Alegre deixou de receber R$ 40,7 milhões para obras de drenagem do Arroio Moinho porque a Prefeitura perdeu o prazo para entrega do projeto junto à Caixa Econômica Federal.
A Prefeitura de Porto Alegre informou, em junho deste ano, que a Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) do Ministério do Planejamento e Orçamento aprovou duas cartas-consulta para viabilizar investimentos focados nas áreas de saneamento, drenagem e prevenção de enchentes, o que inclui a bacia hidrográfica dos arroios Moinho, Cavalhada e Guabiroba.
“Espero que quem está com caneta na mão tome a atitude não apenas de candidato, mas de gestor, e faça o que não foi feito até agora, que é a manutenção [no sistema de proteção contra inundações]”
– Maria do Rosário, candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Falta contexto
Quatro meses após a enchente que devastou parte de Porto Alegre, a maior parte das obras para reforçar o sistema contra cheias está em fase inicial de projeto ou contratação. Em 26 de agosto, a Prefeitura definiu a empresa que atuará junto ao Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) na elaboração de novos projetos para as comportas que integram o sistema de proteção contra cheias do município. O objetivo é desenvolver projetos de novas comportas e fazer a revisão das vedações dos demais portões. Paralelamente, o Dmae planeja o fechamento permanentemente, com concreto armado, de até oito do total de 14 comportas do sistema nos próximos meses.
Em 30 de agosto, tiveram início as obras emergenciais nos diques do bairro Sarandi. A iniciativa da Prefeitura vai elevar o nível do dique da Fiergs para 5,5 metros em toda a sua extensão. Em paralelo, será realizado o trabalho de melhoria dos acessos ao dique do Sarandi - que, em maio, apresentou pontos de extravasamento. O custo das intervenções é de R$ 10 milhões, com recursos próprios.
"Existem obras já planejadas, organizadas e com recursos federais [em relação ao sistema de defesa contra enchentes]"
– Maria do Rosário, candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Verdadeiro
O governo federal anunciou, em 30 de julho, R$ 7,4 bilhões em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Porto Alegre, sendo que R$ 6,5 bilhões devem ser aplicados em drenagem urbana para prevenir desastres naturais. Deste total, devem ser investidos pelo menos R$ 770 milhões em Porto Alegre em obras de macrodrenagem, sobretudo, na zona norte da cidade, onde estão previstas intervenções em galerias de águas pluviais, canais fechados e estações de bombeamento de águas pluviais.
“É curioso que tenhamos o trem em Porto Alegre sem funcionamento quando até Canoas já está funcionando”
– Maria do Rosário (PT), candidata à prefeitura de Porto Alegre, em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 2 de setembro de 2024
Verdadeiro
Trens comerciais não circulam na capital gaúcha desde maio, quando ocorreu a enchente. A Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb) reabriu a Estação Canoas em 1º de julho, atendendo cinco municípios da região metropolitana entre Canoas e Novo Hamburgo.
A previsão é de que no feriado do dia 20 de setembro, Dia da Revolução Farroupilha, sejam reabertas cinco estações: Farrapos, Aeroporto e Anchieta, em Porto Alegre, e Niterói e Fátima, em Canoas. A Trensurb deve reabrir apenas em dezembro outras três estações na capital - Mercado, Rodoviária e São Pedro - completando assim toda a estrutura do sistema de trens da região metropolitana.

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