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Imposto sem aviso, bloqueio do X no Paquistão não reduziu desinformação
Foto: Daniel Oberhaus (2018)
"O X (antigo Twitter) está bloqueado no Paquistão desde o dia 8 de fevereiro deste ano, mas a desinformação e o ódio não diminuíram nem um pouco por aqui desde então". 
A fala acima é de Haseem uz Zaman, que trabalha como produtor e checador na organização paquistanesa de combate à desinformação Soch Fact Check e que é membro da International Fact-Checking Network (IFCN)
No último sábado (31), ciente da suspensão do X no Brasil, Zaman aceitou dar uma entrevista à Lupa por e-mail e pontuou o que considera serem grandes diferenças entre o que aconteceu em seu país e o que se vê agora por aqui.
Em seu primeiro ponto, Zaman lembra que a medida paquistanesa foi adotada por ordem do governo, não da justiça. Depois ressalta que, apesar de o Brasil estar em campanha para as eleições municipais, o dia de votação ainda está longe. No Paquistão, o X foi suspenso no momento em que os eleitores iam às urnas após um grande debate sobre a data da votação única.
Por fim, Zaman ressalta que a decisão de bloquear o X em seu país foi tomada de forma “extremamente opaca” e que o governo paquistanês só reconheceu oficialmente que havia optado por desligar a rede social no país para "garantir a segurança nacional" dois meses depois do ocorrido, em 17 de abril deste ano.
"A situação do Brasil com o X foi muito mais pública e previsível", ressaltou Zaman. "O conflito entre o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e Elon Musk vem se desenrolando há algum tempo, com tensões crescentes. O bloqueio do X aí era amplamente esperado, especialmente se levarmos em consideração a postura firme de Moraes e a notória teimosia de Musk".
Os pontos em comum entre os dois episódios, diz o checador, são bem claros. Primeiro está o descontentamento tanto do governo paquistanês quanto o do STF com as poucas medidas — ou a mais pura inação — dos responsáveis do X com a moderação de conteúdos que transitam na plataforma. O segundo é a preocupação com a censura e o impacto de tais bloqueios tanto na liberdade de expressão quanto no acompanhamento democrático e instantâneo do que é feito pelas autoridades. Perder o X é perder um canal de trocas importante.
Do ponto de vista do trabalho que faz contra a desinformação, Zaman afirma que não houve grandes alterações com o fechamento do X em seu país. "Aqueles que estão determinados a propagar desinformação ainda encontram maneiras de fazê-lo", diz, destacando, por exemplo, um crescimento no número de usuários de outras plataformas, como o BlueSky. 
Numa das checagens que a Soch Fact Check publicou sobre o assunto ao longo dos últimos meses, consta a informação de que houve um aumento exponencial no uso de VPNs no país depois que o X foi suspenso. Sites independentes reportaram que a demanda por serviços de VPN já havia subido 131% em 18 de fevereiro de 2024, dez dias depois dos primeiros cortes. A Surfshark, um dos provedores desse serviço no Paquistão, relatou um aumento de 300% a 400% nas taxas de aquisição de novos usuários no país entre março e fevereiro deste ano, “indicando uma crescente dependência desses serviços para acesso à internet e privacidade.”
Por conta disso, do ponto de vista pessoal, o fact-checker se revela bastante crítico a bloqueios de redes sociais em geral. "Embora o ministro Moraes possa estar lutando uma batalha nobre contra a desinformação, os métodos empregados podem não ser os mais eficazes".

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Maiquel Rosauro
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