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Lupa
No Roda Viva, Marçal mente sobre monetização de cortes
O empresário Pablo Marçal (PRTB) foi o quarto candidato à prefeitura de São Paulo a ser sabatinado no programa Roda Viva, da TV Cultura. Em entrevista na noite de segunda-feira (2), ele afirmou que não houve pagamento por cortes de vídeos nas redes sociais durante a campanha eleitoral, o que não é verdade. Em plena campanha, o problema levou a Justiça Eleitoral de São Paulo a suspender as redes sociais de Marçal por abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação. 
O político distorceu ainda algumas declarações, ao afirmar, por exemplo, que sua candidatura à presidência da República, nas eleições de 2022, foi barrada por uma decisão da Justiça — sem contextualizar que houve impasses dentro do próprio partido, à época o PROS. O candidato também exagerou, dizendo que é o único que não conta com redes sociais (após a decisão da Justiça Eleitoral de São Paulo) e que só estaria contando com “Deus e o povo”. No entanto, ele criou contas reservas que somam milhões de seguidores. Somente no Instagram, já conta com mais de 4 milhões de seguidores. 
Além de Marçal, o Roda Viva já sabatinou os candidatos José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL). O último a participar desta série de entrevistas será o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). 
A Lupa checou algumas das declarações do candidato. A assessoria de imprensa de Pablo Marçal foi procurada e as respostas enviadas pela equipe serão incluídas na checagem.
Só que dentro do período eleitoral, tanto de pré-campanha e campanha, não houve pagamento [de cortes de vídeos]
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Falso
Decisão liminar da Justiça Eleitoral de São Paulo aponta que houve pagamento e bonificação para quem compartilhasse conteúdos relacionados à campanha eleitoral de Marçal. Em 24 de agosto deste ano, o juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 1ª Zona Eleitoral, acatou o pedido de investigação eleitoral aberto pelo PSB, da candidata Tabata Amaral, e decidiu suspender as redes sociais do candidato Pablo Marçal. O motivo seria o pagamento a seguidores que distribuem cortes de vídeos do empresário nas plataformas. 
A acusação é de abuso de poder econômico e uso indevido de meio de comunicação. "Conste que há documento demonstrando que um dos pagamentos proveio de uma das empresas pertencentes ao requerido Pablo, o que pode configurar uma série de infrações", diz trecho da liminar. 
Na decisão, o juiz considerou prints de grupo no Discord com o regulamento das competições de cortes realizadas por Marçal — que premiam os usuários com os vídeos mais visualizados nas redes socais —, e exemplos de postagens de diferentes perfis identificados como sendo de cortes dos vídeos de Marçal.
"'Monetizar cortes' equivale a disseminar continuamente uma imagem sem respeito ao equilíbrio que se preza na disputa eleitoral. Notadamente o poderio econômico aqui estabelecido pelo requerido Pablo suporta e reitera um contínuo dano e o faz, aparentemente, em total confronto com a regra que deve cercar um certame justo e proporcional", diz trecho da decisão. 
O documento chega, inclusive, a citar exemplos de campanhas de bonificação financeira para quem compartilhasse conteúdos eleitorais, como uma publicação que citava o número de Marçal nas urnas e incentivava os usuários a marcar “3 eleitores” para concorrer em um sorteio de R$ 200. Veja, abaixo, o texto do post que consta no processo: 
 “Compartilhando o reels e marcando 3 eleitores vai ser sorteado 200,00
28 M
Acesse o perfil e siga
#Mulheres com Marçal”
Um dos influenciadores que participam do esquema de cortes de vídeos do empresário chegou a publicar, em 21 de agosto de 2024, um comprovante de PIX no valor de R$ 8,5 mil feito por uma empresa de Pablo Marçal, como mostrou reportagem do UOL em 21 de agosto. 

Eles estão desesperados porque nunca na história da Prefeitura de São Paulo alguém tá concorrendo contra a máquina municipal, estadual e federal sem as suas redes sociais, só com Deus e o povo
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Exagerado
Apesar de o candidato ter tido suas contas oficiais nas redes sociais suspensas por decisão do juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 1ª Zona Eleitoral, Pablo Marçal criou contas reservas em plataformas como TikTok, YouTube, WhatsApp, Telegram e Gettr com amplo alcance de público. Somente no Instagram, o perfil reserva conta com mais de 4 milhões de seguidores. A título de comparação, o candidato Guilherme Boulos, do PSOL, tem 2,3 milhões de seguidores na mesma rede. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), por sua vez, tem um número bem abaixo de seguidores, 984 mil. 

Não foi o partido que me derrubou não [candidatura à Presidência da República em 2022], foi uma decisão na Justiça, que o partido estava comigo
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Exagerado
Embora Marçal tenha sido oficializado como candidato à Presidência pelo PROS em 2022, o próprio partido retirou a candidatura do empresário antes de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitar o registro dele. A decisão da Justiça Eleitoral, portanto, apenas validou uma decisão que já havia sido tomada pelo PROS
A candidatura de Marçal à Presidência da República foi oficializada em 31 de julho de 2022, mas 15 dias depois a Executiva do PROS resolveu retirá-la para apoiar a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mesmo com a remoção de seu nome pelo PROS em 15 de agosto de 2022, Marçal fez um evento de lançamento de sua campanha ao Planalto no dia seguinte, em 16 de agosto. Em 6 de setembro, 21 dias depois, a Justiça Eleitoral barrou o registro do empresário.  
A decisão do TSE baseou-se em mudanças que ocorreram na presidência do PROS. A corte acatou decisão do ministro Ricardo Lewandowski que determinou que Eurípedes Júnior, que defendia aliança com a chapa Lula-Alckmin, voltasse ao cargo de presidente do partido. Com a decisão, a direção do PROS resolveu barrar a candidatura de Marçal, que havia sido referendada por uma outra ala. 

Porque a condenação foi na primeira instância, a gente não chegou a ir para o trânsito em julgado
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Falta contexto
Pablo Marçal foi condenado em sentença do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, proferida em 5 de maio de 2010. No texto da decisão, o juiz Paulo Augusto Moreira Lima condenou Marçal pelo “delito de furto qualificado” a uma pena de quatro anos e cinco meses de reclusão e 58 dias-multa, em regime semiaberto.
O recurso só foi analisado em segunda instância em 2018. A pena acabou sendo extinta por prescrição retroativa (quando o tempo transcorrido é maior do que o tempo da sentença). "Observando que transcorreram mais de quatro anos entre a publicação da sentença penal condenatória no e-DJF1 em 05/05/2010 e a presente data (2018), faz-se mister o reconhecimento, de ofício, da extinção da punibilidade pela ocorrência da prescrição retroativa da pretensão punitiva do Estado quanto ao delito do art. 155, § 4º, II, do CP, em relação ao apelante Pablo Henrique Costa Marçal” (página 10).

Não tenho fundo eleitoral
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Falta contexto
A prestação parcial de contas de Marçal indica que ele ainda não usou recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) — popularmente conhecido com fundo eleitoral. Isso pode ser verificado no DivulgaCand, sistema de divulgação das candidaturas e contas dos candidatos e partidos políticos no Brasil, atualizado em 29 de agosto de 2024
Ainda assim, o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), sigla pela qual Marçal é candidato, recebeu cerca de R$ 3,4 milhões do fundo para financiar as campanhas de 2024. Com isso, é possível que o candidato receba, até o fim da disputa, valores referentes ao fundo.

Hoje, o endividamento do Estado está em quase 7 trilhões de reais
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Verdadeiro
A dívida pública federal era de R$ 7,067 trilhões até junho de 2024 — dado mais atual disponível —, segundo Relatório Mensal da Dívida da Secretaria do Tesouro Nacional. 
É válido citar que os resultados referentes a julho de 2024, que estavam previstos para 28 e 29 de agosto, serão anunciados a partir desta quarta-feira (4).

Os Estados Unidos têm 10 mil bancos
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Exagerado
Existem cerca de 4.036 bancos comerciais nos Estados Unidos segurados pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) — Corporação Federal de Seguro de Depósitos, em português. O painel conta com dados até 2023, ano mais recente apresentado. Esse número inclui tanto bancos comerciais quanto bancos de poupança, mas não abrange cooperativas de crédito, que são reguladas por outra agência, a National Credit Union Administration (NCUA).

Brasil tem 21 milhões de CNPJs
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Verdadeiro
Segundo dados do painel Mapa de Empresas, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o país conta, em números absolutos, com 22.405.452 empresas ativas. Em 2024 foram abertas 2.542.996 novas organizações. O painel revela também que foram fechadas 1.479.204 empresas no mesmo período.

10 milhões [de CNPJs] estão no estado de São Paulo
– Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, no dia 02 de setembro de 2024
Exagerado
De acordo com dados do painel Mapa de Empresas, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o estado de São Paulo conta, em número absolutos, com 6.490.390 empresas ativas. Em 2024 foram abertas 769.730 novas organizações empresariais. O painel revela também que foram fechadas 427.878 empresas no mesmo período. 

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Catiane Pereira
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