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Parlamentares bolsonaristas e grupos de extrema-direita mobilizam atos de 7/9 com anúncios pagos e fakes
Monitoramento da Lupa mostra uma forte mobilização de parlamentares bolsonaristas e grupos da extrema-direita nas redes sociais para os atos de 7 de setembro na avenida Paulista, com anúncios impulsionados na plataforma da Meta contendo ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), além de compartilhamento de fakes e mensagens de 'golpe' e 'fraude' nas eleições de 2022.
No WhatsApp e no Telegram, mensagens reforçam, sem provas, que as eleições de 2022 "foram manipuladas e ou fraudadas" e que é preciso "restabelecer a ordem diante do autoritarismo". Há, inclusive, um texto supostamente escrito por um pastor incentivando o público evangélico a participar dos atos. "Não é porque o pastor Silas Malafaia quer, ele é apenas um porta voz de milhões de brasileiros, não somente evangélicos, que já não suportam mais os abusos autoritários dos togados do STF, que não foram eleitos pelo povo para legislar, criar e ou alterar leis". Em outro trecho, a mensagem afirma que o ato de 7 de setembro "vai ser o gatilho para a queda de Moraes e outros". 
Dados coletados pelo monitor da Palver em grupos públicos de aplicativos de mensagens, entre segunda (02) e a manhã de quinta-feira (05), mostram que esses conteúdos podem ter alcançado mais de 220 mil diferentes usuários do WhatsApp e Telegram.
As mensagens, que se intensificaram após Alexandre de Moraes determinar a suspensão do X no Brasil, incitam atos hostis contra o ministro. "Alexandre de Moraes deitou e rolou: mentiroso e perseguidor, reúne todas as características de um psicopata, serial killer. Quantos morreram na prisão, por causa de suas decisões criminosas? Foi preciso que surgisse Elon Musk para desmontar essa toga imunda, tingida de sangue. E ele ainda está esperneando, achando que irá escapar. Depois das provas que serão apresentadas por Musk, é possível que venha o voto impresso, possivelmente, também, surgirá a história do código fonte, anistia e tudo o mais a que todos têm direito. Essa esquerda é assassina e nada produz. Lula terá de voltar para a cadeia. E Alexandre de Moraes? Ninguém gostaria de estar na sua pele. Sem dúvida, é o mais cruel de todos esses marginais."
Dentre o conteúdo compartilhado, há um vídeo cuja legenda afirma que Alexandre de Moraes alega em tom de ameaça que, quem comemorar o 7 de setembro, estará cometendo crime. A gravação do registro mostra um trecho em que o ministro diz: "Qualquer pessoa que pretenda comemorar o dia 8 estará comemorando um crime, porque estará comemorando uma tentativa de golpe". A mensagem é enganosa. 
O vídeo na verdade mostra uma declaração de Alexandre de Moraes à revista Veja sobre os ataques golpistas de 8 de janeiro. Na ocasião, o ministro condenou possíveis atos favoráveis ao episódio nas comemorações de um ano. "Seria importante que essas pessoas tenham muito cuidado com o que vão fazer. Depois vão acusar o Ministério Público e o Poder Judiciário de serem rigorosos demais. Não se comemora tentativa de golpe. Não se comemora tentativa de derrubar dos Poderes constituídos. Isso é crime também", afirmou o ministro na entrevista.
A Lupa mostrou em reportagem publicada na sexta-feira (30) que o embate entre Moraes e o empresário Elon Musk amplificou nas redes teorias conspiratórias sem provas sobre fraude nas eleições de 2022 e de infiltrados da esquerda durante os atos golpistas de 8 de janeiro. A narrativa é que os conteúdos que estão sendo disseminados eram sigilosos, estavam bloqueados por decisão do ministro e foram liberados “graças ao empenho” de Musk. Contudo, vários desses vídeos circulam no Brasil, pelo menos, desde janeiro deste ano e já foram desmentidos pela Lupa e por outras agências de checagem.
Em contradição, há também mensagens que solicitam aos usuários que evitem qualquer cartaz que possa ser classificado como "anticonstitucional". "É um ato pela LIBERDADE e procura-se evitar que algo possa ser vinculado para que o sistema não proíba tais atos, o que não seria nada fora do 'comum' que hoje vivemos". 

Anúncios no Facebook e Instagram acusam censura e pedem impeachment

A mobilização em torno dos atos de 7 de setembro — para mostrar força diante do 'autoritarismo' e da 'censura' — tem sido impulsionada também em anúncios pagos no Facebook e no Instagram por parlamentares e candidatos. As publicações fazem ataques à Justiça, ao ministro Alexandre de Moraes e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). 
Um desses posts mostra um vídeo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocando seus eleitores para os atos na avenida Paulista. O post é impulsionado pelo perfil de Adeliana Dal Pont, candidata do PL à prefeitura de São José (SC), com alcance estimado de até 500 mil usuários. "Começa hoje a Semana da Pátria, e o grande recado que o nosso time tem para São José e para o Brasil é que de nada serve comemorar a independência, se não temos liberdade. As arbitrariedades que vivemos hoje, como a censura e a existência de presos políticos, são um atentado contra a Constituição e contra a Democracia". 
Uma candidata à vereadora no município de Ribeirão Preto (SP), em uma publicação com 8 anúncios e alcance de até 40 mil usuários, chama o ministro de "megalomaníaco" e conclama a população a apoiar Bolsonaro e a exigir a saída de Alexandre de Moraes do STF. "Chega. Estou aqui para conclamar todos vocês para a maior manifestação que o Brasil já viu. [...] Nossos irmãos do 8 de Janeiro continuam presos com penas de até 17 anos, exilados políticos sofrem e até o X está proibido. Essas arbitrariedades vêm de um único ministro autoritário e megalomaníaco. Estamos vivendo sim numa ditadura, ditadura de toga."
O advogado especialista em direito público Marcelo Peregrino Ferreira, diretor do Núcleo de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Catarina (OAB-SC), consultado pela reportagem, não viu irregularidades nos anúncios citados que poderiam ferir as normas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 
Uma outra publicação impulsionada pelo perfil do deputado federal Rodrigo Valadares (União Brasil-SE) chama o senador Rodrigo Pacheco de 'frouxo' — ele é o responsável pelo andamento inicial de um eventual processo de impeachment de ministros do STF. "CHEGA!!! Esse é o GRITO QUE ESTÁ “ENTALADO NA GARGANTA” DOS BRASILEIROS! Senador Pacheco, tome uma atitude e vote o impeachment de Alexandre de Moraes. Chega de abusos, chega de ilegalidades, chega de ditadura do Judiciário". 

Políticos desinformam sobre participação do MST nos atos de 7 de setembro

Uma possível participação de dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no desfile de 7 de Setembro em Brasília foi usada sem contexto por políticos da extrema-direita para criticar o movimento e o governo Lula. 
Parlamentares como o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos - MG), os deputados federais Maurício do Vôlei (PL-MG), Rodolfo Nogueira (PL-MS) e Caroline de Toni (PL-SC), além do deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG) aproveitaram a polêmica e usaram suas redes para chamar integrantes do MST de 'criminosos' e tirar de contexto a ideia inicial da proposta. 
Inicialmente, o governo Lula havia aprovado o convite para que integrantes do movimento participassem do ato. Eles integrariam o grupo de instituições homenageadas pela atuação na reconstrução do Rio Grande do Sul após a tragédia climática de maio de 2024 — ainda assim, não desfilariam ao lado do Exército.
Em 4 de maio, contudo, o governo federal comunicou oficialmente que a ideia não seria mais viável por razões técnicas e de logística. Em nota, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República afirmou que “a presença de representantes de organizações da sociedade civil não será possível neste ano em virtude da dificuldade de organizar logística – veículos de transporte – para a participação deles ao tempo devido”. 
A ideia inicial era que apenas alguns integrantes do MST participassem — e não que todo o movimento desfilasse junto ao Exército. À Lupa, a assessoria de imprensa do MST confirmou que o movimento teria dois membros “que fariam uma participação simbólica durante o desfile” em Brasília, “representando, junto a outras organizações convidadas, entidades que obtiveram um reconhecimento público às ações solidárias empenhadas na reconstrução do estado do Rio Grande do Sul”. 

Parlamentares reforçam ataques

Os grupos de mensagens de WhatsApp e Telegram também alimentam os usuários com vídeos de parlamentares bolsonaristas que incitam ataques ao STF. Esse modus operandi começou ainda na sexta-feira (30), como mostra reportagem da Lupa. Uma das principais publicações é uma gravação do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) afirmando que Alexandre de Moraes "cruzou uma linha que nós nem imaginávamos que existia". "Estamos indo pro tudo ou nada dessa vez!", diz a legenda da mensagem que alcançou cerca de 50 mil usuários desde segunda-feira (02).
Outro post mostra reação do senador Eduardo Girão (Novo-CE) afirmando que “chegou a hora da verdade” e que o “Senado não pode mais se omitir” em relação a Alexandre de Moraes.
Monitoramento pelo LupaScan, sistema que monitora redes sociais de políticos eleitos em busca de desinformação e discurso de ódio, mostra que parlamentares continuam a convocar eleitores para o 7 de setembro e prometem obstruir pautas no Congresso a partir de 09 de setembro. "A gente tem que fazer aqui é colocar o ministro Alexandre Mor no devido lugar dele", afirma o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG). Há também uma mobilização para que eleitores entrem em contato com os parlamentares para pedir o impeachment de Moraes.  

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Maiquel Rosauro
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