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Site pornô, WhatsApp e Telegram expõem fotos falsas de Tabata Amaral e Marina Helena nuas
24.09.2024 - 13h35
Florianópolis - SC
A reportagem foi atualizada para incluir posicionamento da candidata Tabata Amaral (PSB).
07.02.2025 - 14h01
As duas únicas mulheres candidatas à prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (NOVO), tiveram fotos falsas de nudez expostas em um site de pornografia. 
Uma semana depois de a Lupa ter denunciado na Ebulição SP — newsletter com análises sobre as eleições municipais na capital paulista  — a circulação nas redes sociais de posts com conteúdos misóginos sobre as candidatas após debate da TV Cultura em 15 de setembro, agora fotografias falsas de nudez explícita, especialmente de Tabata Amaral, começaram a circular também em grupos de WhatsApp e do Telegram. 
Pelo WhatsApp, a Lupa recebeu supostas fotos de Tabata Amaral seminua acompanhadas de mensagens como “Isso é postura de candidata?” ou ainda “Conhece esta princesa: é a Tábata Amaral, candidata à prefeitura de Sampa. Nos debates ela se julga uma santa para enganar os eleitores medíocres e idiotas!”
Mensagens desinformativas acompanham fotos falsas de nudez e questionam a conduta de Tabata Amaral - Imagem: reprodução
Na Palver, ferramenta que mapeia tendências de conteúdos em grupos de aplicativos de mensagens e em redes sociais, a reportagem identificou que as imagens falsas da candidata à prefeitura de São Paulo também circularam em um grupo do Telegram com alcance de mais de 400 pessoas, acompanhadas da mensagem “Isso é postura?”. Já no WhatsApp, fotos fakes de nudes de Tabata circularam em um grupo chamado “Eleições 2024 Pablo Marçal 28” que conta com quase 500 integrantes.
Imagem de Tabata Amaral no programa Roda Viva foi alterada para criar uma versão fake na qual ela supostamente aparece nua - Imagem: reprodução

Imagens fakes tiveram mais de 145 mil visualizações em site de pornografia 

Pesquisas reversas mostram que todas as imagens sensuais falsas de Tabata Amaral foram postadas no mesmo site de pornografia. Na página, descrita como um “lugar para compartilhar fotos eróticas e vídeos pornô”, foram identificadas em 23 de setembro seis publicações, algumas com álbuns de até oito fotos cada. 
Juntas, as imagens somavam 145,9 mil visualizações. As publicações são de três perfis diferentes: quatro de um perfil identificado apenas como “gatasbrz”, uma do perfil “AsMelhoresxxx” e uma de uma conta identificada como “Kelly26Free”. 

Foto de Tabata com camiseta do Flamengo foi usada como modelo

Uma foto verdadeira de Tabata Amaral com a camiseta do Flamengo, de 2021, foi usada como modelo para criar falsos nudes da deputada federal. Nas versões falsas, é possível identificar o mesmo fundo e a mesma expressão no rosto. 
Foto postada por Tabata em 2021 foi usada como modelo para criar falsos nudes - Imagem: reprodução
Uma outra versão usa imagens de Tabata Amaral durante participação recente no Roda Viva, programa de entrevistas da TV Cultura. As versões fakes usam o mesmo fundo e o rosto da política e criam uma montagem com o corpo de uma mulher nua na cadeira do programa de televisão. 

Marina Helena também tem foto fake exposta em site pornô

O site de pornografia também disponibiliza uma foto falsa de Marina Helena. Uma busca pelo nome da política mostra que o mesmo perfil (“AsMelhoresxxx) que manipulou fotos de Tabata Amaral em supostos nudes criou digitalmente também uma versão da candidata do partido Novo — até as 16h30 de 23 de setembro, o post tinha 857 visualizações. 
Pesquisa reversa indica que, na foto original, Marina Helena está sorrindo, sentada, vestida com uma camisa branca. A versão fake usa o rosto da candidata e adiciona o corpo de uma mulher nua.
Em uma das publicações do site de pornografia, a pessoa autora das manipulações faz propaganda do serviço de criação de imagens falsas: "Faço fakes com a pessoa que você quiser. Me chama no WhatsApp”. A Lupa tentou contato, mas não obteve retorno.
Procurada, a assessoria de imprensa de Marina Helena informou que a imagem é “absolutamente falsa”. Já Tabata Amaral afirmou, por meio de sua assessoria, que todas as tentativas de a desqualificar são encaminhadas à Justiça. “Sou candidata à Prefeitura de São Paulo e sou agredida por ser mulher. Em uma das campanhas eleitorais mais violentas que o país já viu, já tentaram me desqualificar citando a minha idade, o meu tamanho e com deepfakes. É inadmissível que as duas candidatas mulheres sejam alvo de ataques desse tipo. A lei 14.192/2021 considera violência política contra a mulher ‘toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos da mulher’. 

Violência de gênero na política evidente em sexualização ou insultos a mulheres

Conteúdos falsos de cunho sexual envolvendo Tabata Amaral circulam desde o começo de setembro. É o caso de deepfakes (montagens feitas por inteligência artificial), que mostravam falsamente o rosto da deputada em poses sensuais e de teor sexual. Na ocasião, ferramentas como a Hive Moderation, utilizada para detectar conteúdos gerados por IA, confirmaram haver mais de 97% de chance de as imagens falsas da candidata terem sido geradas por IA.
Em 13 de setembro, a campanha do PSB chegou a acionar a Justiça Eleitoral em São Paulo contra a disseminação das imagens. Onze dias depois, os conteúdos não só não pararam de circular, como passaram a ter versões ainda mais explícitas. 
A candidata de São Paulo, contudo, não é a única vítima. A terceira edição do MonitorA,  observatório de violência política de gênero online desenvolvido pelo Instituto AzMina, InternetLab e Núcleo Jornalismo divulgado em 13 de setembro, mostrou que as candidatas às prefeituras de grandes capitais brasileiras, como Maria do Rosário (PT-RS) e Duda Salabert (PDT-MG), por exemplo, também tiveram propostas ofuscadas por comentários misóginos e transfóbicos. 
Na terceira edição do relatório, foram analisados mais de 4.700 comentários potencialmente ofensivos feitos durante e após os debates da TV Band, realizado em 8 de agosto, no canal do YouTube da emissora. Foram coletados dados de transmissões de Natal (RN), Goiânia (GO), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS) — onde concorrem 18 candidatos homens e apenas 8 candidatas mulheres: Juliana Brizola (PDT-RS), Maria do Rosário (PT-RS), Andrea Caldas (PSOL-PR),  Maria Victoria (PP-PR), Natália Bonavides (PT – RN), Adriana Accorsi (PT – GO),  Duda Salabert (PDT-MG) e Tabata Amaral (PSB-SP). 
A análise mostrou que 1.680 comentários eram de fato ofensivos: 11% foram classificados como ataques diretos e 24,3% como insultos. São Paulo concentrou quase metade (49,4%) do total dos comentários analisados, seguida por Porto Alegre, com 22,6%. 
Tabata Amaral foi uma das figuras mais atacadas, recebendo quase a metade dos comentários ofensivos direcionados aos cinco candidatos (dos quais quatro eram homens) que participaram do debate naquele dia. Dos 289 insultos ou ataques que a paulistana recebeu, 73 foram classificados como inferiorização, 34 como misoginia e 34 como etarismo.
Nota: Este conteúdo faz parte do projeto Mídia e Democracia, produzido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI) e a FGV Direito Rio em parceria com Democracy Reporting International e a Lupa. A iniciativa é financiada pela União Europeia.

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