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Não era infiltrado homem que destruiu relógio histórico em 8 de janeiro
27.09.2024 - 16h34
João Pessoa - PB
Circula nas redes sociais vídeo que alega que o homem que destruiu o relógio histórico nos atos golpistas de 8 de janeiro seria um infiltrado da esquerda. É falso.
Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:
A verdade sempre prevalece... Primeiro foi Adélio e agora o rapaz do relógio [um infiltrado]. Acorda Brasil. Vc ainda acredita na narrativa da esquerda?
– Legenda de vídeo que circula no WhatsApp
Falso
O autor do ataque ao relógio foi identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira. Ele tinha 30 anos na época e morava na cidade de Catalão (GO), a cerca de 260 quilômetros de Goiânia. Ferreira foi preso pela Polícia Federal (PF) no dia 23 de janeiro, em Uberlândia (MG). Ao contrário do que afirma o vídeo, há diversos indícios que provam que ele não era um infiltrado da esquerda.
No voto proferido pelo relator e ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), constam provas obtidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) da atuação de Antônio Ferreira no dia dos atos golpistas de 8 de janeiro e de sua participação anterior nos acampamentos antidemocráticos montados em frente aos quartéis. Dentre esses registros estão fotos e vídeos gravados pelo próprio acusado, no período de 6 de novembro de 2022 a 8 de janeiro de 2023. 
Em um dos vídeos, o acusado diz: “Olha nossa janta, achou que nós ia passar fome, né? Aqui ó, ó o suquinho, água gelada. Achou mesmo é? Aqui é Brasil, porra. Chupa PT!”. Segundo o voto de Moraes, o registro contradiz o alegado pelo acusado durante a audiência de instrução, "no sentido de que não estava participando de manifestação contra partido político ou candidato específico". 
Vídeo registrado pelo acusado em 6 de novembro de 2022, em ato antidemocrático
As provas que constam no relatório final de Alexandre de Moraes mostram Antônio Ferreira vestindo roupas verde e amarelo, em alusão às vestimentas usadas pelos golpistas nos atos antidemocráticos. Isso desmente o vídeo que circula nas redes sociais, que alega como um dos “indícios” de ele ser um infiltrado o fato de Antônio Ferreira usar uma camisa preta com a imagem de Jair Bolsonaro em 8 de janeiro – a recomendação era vestir roupas com as cores da bandeira brasileira. 
De acordo com o relatório final, Antônio Ferreira confessou que esteve em Brasília no período entre 6 e 17 de novembro de 2022, "para participar de manifestações pacíficas". Contudo, resolveu retornar para sua cidade para participar dos atos que lá ocorriam. Voltou ao Distrito Federal em 1º de dezembro, ficando na cidade até os atos de 8 de janeiro. 
"A intenção dos manifestantes, segundo o réu, era chamar a atenção das autoridades quanto ao processo eleitoral e solicitar a realização de novas eleições. Segundo as alegações do acusado, os manifestantes pretendiam que fossem realizadas novas eleições somente com candidatos com ficha limpa sem, no entanto, individualizá-los. Informou que, no acampamento, fazia as alimentações (café da manhã, almoço e janta) de graça", alegou o acusado.
Vídeo registrado pelo acusado em 7 de novembro de 2022, em ato antidemocrático.
Ainda segundo Antônio Ferreira, em seu depoimento em 8 de janeiro de 2023, juntamente com outros manifestantes, dirigiu-se até a Esplanada dos Ministérios para participar da manifestação que ocorreria no local. No entanto, após rompimento da barreira policial, ele conseguiu ingressar juntamente com os demais golpistas nos prédios do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal. 
"O acusado confessou que danificou um vidro para ingressar no Palácio do Planalto e, em razão da reação dos órgãos de segurança, resolveu danificar o relógio histórico e rasgar uma poltrona, os quais estavam na parte interna do prédio e, após, jogou um extintor nas câmeras. O acusado confessou ser ele quem aparece nas imagens e vídeos publicados em rede nacional. Após provocar os danos, retornou para sua cidade e permaneceu em casa. Ao tomar ciência da publicação de vídeos com sua imagem, foi para a cidade de Uberlândia ficar na casa de amigos para se proteger de eventual represália de pessoas da esquerda", diz o trecho do voto de Moraes. 
É possível verificar nas imagens divulgadas pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) que o acusado consegue subir a rampa do Palácio do Planalto por volta das 15h30. No local, poucos minutos antes, já havia alguns golpistas andando ao redor. Após Antônio Ferreira passar no local, começam a surgir outras pessoas em maior volume. As imagens não mostraram, em nenhum momento, que Antônio Ferreira estivesse sozinho no local.
Homem que quebrou relógio ao lado de outros golpistas. 
"Às 15h30 foi rompida parte da estrutura de segurança do Supremo Tribunal Federal, com a invasão do local por 300 (trezentos) criminosos, que iniciaram a depredação do prédio. A retomada dos prédios só foi alcançada na noite do dia 08/01/2023, com a prisão em flagrante de centenas de invasores", mostra o relatório de Alexandre de Moraes. O ato de vandalismo contra o relógio ocorreu por volta das 15h33.

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Maiquel Rosauro
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