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Desinformação sobre urnas chega a quase um milhão de usuários no WhatsApp e Telegram desde o início da campanha eleitoral
Cartórios e postos da Justiça Eleitoral de todo o país começaram, no dia 23 deste mês, a carregar nas urnas eletrônicas que serão usadas no dia 6 de outubro os sistemas eleitorais e os dados de todos os candidatos e eleitores registrados no Brasil. O assunto virou uma nota no site e nas redes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e teve pouco destaque na mídia nacional. Mas, faltando menos de uma semana para o primeiro turno, as urnas eletrônicas são assunto quente nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem, e o volume de desinformação sobre elas já chegou a quase um milhão de pessoas.
Dados da Palver, parceira da Lupa no monitoramento de mais de 80 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram do Brasil, mostram que, desde o início da campanha deste ano (em 16 de agosto) mais de 920 mil usuários desses dois aplicativos foram impactados por mais de 750 mensagens únicas que mencionam pelo menos uma das três expressões a seguir: "urnas auditáveis", "fraude eleitoral" ou "voto impresso". Os três termos são comumente usados por produtores de conteúdo que atacam as urnas.
Dentre essas 750 mensagens únicas detectadas pela Palver, pelo menos 39 chegaram a um ponto de viralização tão alto no WhatsApp que receberam da Meta a seta dupla, símbolo que indica que um conteúdo foi fartamente reencaminhado dentro da plataforma.

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Um mergulho nessas 39 mensagens únicas deixa claro que, assim como costuma acontecer com outras narrativas falsas, a que tenta convencer o eleitor de que as urnas brasileiras (ou as eleições como um todo) não são confiáveis também sofre mutações
Em 2018, o que viralizava eram críticas a um (falso) fabricante das urnas. Em 2020, era a ideia de que a urna pode ser hackeada via internet e que não permite recontagem. Em 2022, que um simples chupa cabra poderia ser usado para tirar os votos de um candidato e dar a outro e que peritos da Polícia Federal haviam constatado de forma definitiva que as urnas não eram confiáveis usando uma lei da matemática. Todas teorias sem comprovação e que foram incansavelmente desmentidas. Agora, em 2024, a política internacional é usada "como prova" de que o voto impresso é vital, pois a urna eletrônica é falha.
Num dos picos mais recentes de conversas de WhatsApp e Telegram sobre o assunto, registrado em 17 de setembro, desinformadores distribuíram pelos apps um vídeo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentando o desfecho da última eleição venezuelana. Na gravação, Lula diz que é preciso ver os boletins de urna do país (algo que o governo Maduro omite há meses) para confirmar o desfecho do pleito. Junto com esse vídeo, viralizaram mensagens irônicas que associavam realidades eleitorais totalmente diferentes: "O Luladrão deixou claro que sem voto impresso as urnas não são confiáveis, como fica o TSE agora?" ou "Olhem o canalha confirmando que as urnas sem voto impresso não são confiáveis!".
Na última semana, o conteúdo anti-urna que mais bombou nos apps de mensagem foi um vídeo de um comunicador português que diz que os votos do Brasil não são votos porque são "uma coisa que vai para dentro de um máquina abstrata e que se esfumaça no ar". 
Na lógica do influenciador português – que já foi checado pela Lupa ao mentir no Senado sobre as urnas – e que, no mesmo vídeo, ataca as vacinas, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e o presidente Lula, o Brasil vive há anos imerso na ilegalidade por não oferecer aos seus cidadãos uma contagem pública dos votos. Essa informação, no entanto, é falsa. A contagem promovida pelo TSE é pública e eletrônica. Pode ser acompanhada de qualquer lugar do mundo. E seu resultado pode ser (e é) contrastado com os boletins de urna impressos por cada seção de votação
Mas não só usuários de WhatsApp e Telegram compartilharam o vídeo do português como ele também se espalhou por outras mídias sociais. No X (suspenso no Brasil desde 30 de agosto), o material foi amplificado por mais de dez perfis que se comunicam em português e que, juntos, têm quase 200 mil seguidores.
Riscos novos
Um movimento aparentemente novo – que parece mobilizar canais públicos de WhatsApp de pelo menos oito estados do país – tem distribuído material visual (cards) para uma campanha que pretende levar a Justiça Eleitoral não só a estabelecer votos impressos como também a promover a contabilização de votos em cada uma das seções do país nas futuras eleições.
egiões que aparecem coloridas no mapa gerado pela Palver são os DDDs que registraram circulação de mensagens potencialmente falsas sobre as urnas. 
Dados do NewsWhip, ferramenta que monitora conteúdos publicados em sites, blogs e em redes abertas como Facebook, YouTube, Instagram e X, mostram que, desde o início da campanha, quase dois mil artigos citando "urnas auditáveis", "fraude eleitoral" ou "voto impresso" foram publicados no Brasil, numa média de mais de 47 por dia desde o início da campanha eleitoral. A maioria deles sugere que a urna não é auditável e já acumula mais de mil interações. 
Pela mesma ferramenta, também fica claro como conteúdos de uma rede migram para outra, com o intuito de atingir cidadãos digitais com perfis diferentes. São vídeos verticais do TikTok aparecendo em postagens do YouTube e vice-versa. Prints do X em publicações no Facebook ou Instagram e vice-versa. No combate à desinformação, essa migração trans plataforma é um sinal de alerta.
Enquanto o assunto chega a centenas de milhares de pessoas pelas redes sociais, o tema não parece receber a mesma atenção fora delas. Uma busca no Google por notícias relativas à ministra Carmen Lúcia, atual presidente do TSE, mostra que ela tem sido enfática ao criticar a violência na campanha eleitoral. Pediu que os candidatos tomem tenência e ressaltou que não tolerará pugilato. Uma busca sobre a última vez que a chefe das eleições deste ano se pronunciou publicamente sobre as urnas eletrônicas indica que isso ocorreu há mais de duas semanas
Esta reportagem foi originalmente publicada na edição premium da newsletter do Canal Meio no dia 14 de setembro de 2024, como parte de uma parceria selada pela Lupa com essa organização. 

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João Pedro Capobianco
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