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Datena vira alvo de deepfake; vídeo usa IA para mostrar suposto caso de assédio sexual
01.10.2024 - 16h00
Poços de Caldas - MG
O candidato à Prefeitura de São Paulo José Luiz Datena (PSDB) foi alvo de um vídeo calunioso criado com o uso de Inteligência Artificial (IA). O deepfake, que passou a circular nas redes sociais a partir de 25 de setembro - a menos de 15 dias do primeiro turno das eleições municipais - mostra o ex-apresentador da TV Bandeirantes em um estúdio de televisão beijando à força a jornalista Bruna Drews, que o acusou de assédio em 2018. A cena é falsa e apresenta evidências de manipulação digital.
Além de movimentos artificiais de braços e cabeças, a mesma sequência mostra a mulher no vídeo com três vestimentas diferentes, como mostra a imagem abaixo. Também chama atenção a presença abrupta de um veículo - uma van branca - dentro do estúdio, que desaparece de um frame para outro. Durante a sequência, o rosto atribuído a Drews também se transfigura de forma artificial.
A ferramenta de detecção de IA da organização True Media classificou o vídeo como apresentando “evidência substancial” de uso de inteligência artificial para geração ou manipulação de rostos.
Frames diferentes mostram a jornalista vestida de preto (à esquerda), de roupa preta e branca (ao centro) e de roupa com estampa florida em verde e branco (à direita); além disso, uma van branca aparece em um dos frames, e desaparece na sequência
Dados da Palver, parceira da Lupa no monitoramento de grupos públicos de WhatsApp e Telegram do Brasil, mostram que o deepfake começou a circular a partir de 25 de setembro, em ao menos seis grupos de direita no WhatsApp, tendo atingido quase 4 mil pessoas no aplicativo de mensagens. A publicação enganosa é uma das que surgiram nas redes sociais após o candidato Pablo Marçal (PRTB) ter explorado, durante a campanha eleitoral, uma acusação de assédio sexual feita pela jornalista Bruna Drews contra Datena.
Em 2018, Drews - uma ex-repórter do “Brasil Urgente”, apresentado por Datena na TV Band -  acusou o apresentador de assédio sexual e, seis meses depois, já em 2019, acionou o Ministério Público contra Datena
Naquele mesmo ano, a repórter assinou em cartório uma declaração de que o episódio de assédio não havia ocorrido e que os atos de Datena foram “brincadeiras”. Em nova mudança no caso, porém, Drews voltou a afirmar que o assédio havia, sim, acontecido. O processo foi arquivado pela justiça.

Fakes sobre suposto assédio viralizaram

Na semana passada, conforme a Lupa verificou, um vídeo em que a jornalista Rhiza Castro relata um episódio de assédio sexual sofrido na TV Record circulou como se as acusações fossem contra Datena. No Instagram, Castro esclareceu que sofreu assédio em outra emissora, por outra pessoa. E afirmou que jamais trabalhou com Datena.
Mesmo após a associação com o apresentador ter sido desmentida, o vídeo de Castro continuou circulando e, agora, junto a uma montagem feita com Inteligência Artificial. A nova publicação mostra, em tela dividida, o relato da jornalista na parte superior e, na parte inferior da tela, o deepfake em que Datena parece agarrar e beijar Drews à força.
Publicação que circula nas redes sociais mostra relato de Rhiza Castro na parte superior e deepfake de Datena e Bruna Drews na parte inferior
É possível perceber que o conteúdo artificial foi fabricado a partir de uma foto de Drews comumente estampada em portais de notícias e nas redes sociais.

Provocações de Marçal

Durante debate na TV Cultura, no domingo, 15 de setembro, Marçal chamou Datena de “jack” - termo utilizado em unidades prisionais para se referir a acusados de assédio e estupro - e afirmou  que Datena respondia por assédio sexual.
“Você está pagando, não sei, milhões pelo silêncio dessa mulher, acho que é ex-funcionária da Band (...) Eu quero saber, você tocou na vagina dela? Como é que foi essa questão do assédio sexual seu?”, disse Marçal. Datena disse que o processo havia sido arquivado pelo Ministério Público e que a suposta vítima se retratou publicamente das acusações, tendo registrado a retratação em cartório.
No quarto bloco do debate, no entanto, quando candidatos puderam fazer perguntas diretamente uns aos outros, Pablo Marçal provocou Datena mais uma vez e o chamou de “arregão”. Datena, então, foi em direção a Marçal, o golpeou com uma banqueta e foi expulso do debate, em dos fatos políticos mais noticiados das eleições municipais de 2024 e que alcançou repercussão internacional.
O episódio de violência reacendeu fakes e foi utilizado, inclusive, em propagandas eleitorais pagas por candidatos. No último domingo, 22, durante carreata no bairro Grajaú, na zona sul de São Paulo, Marçal enfrentou um protesto de moradores que ergueram cadeiras, em alusão ao episódio.
Ao longo da campanha para as eleições municipais de 2024, outros conteúdos criados com inteligência artificial também circularam nas redes sociais, a exemplo do vídeo falso em que Bolsonaro pede apoio a Pablo Marçal.
A Lupa entrou em contato com a assessoria de José Luiz Datena, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
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