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Lupa
Na Band, Nunes e Boulos erram dados e trocam ataques sobre apagão
As respostas enviadas pelas assessorias de imprensa dos candidatos foram incluídas na checagem.
15.10.2024 - 10h30
O apagão que afeta moradores da cidade de São Paulo desde sexta-feira (11) foi o foco principal de troca de ataques entre os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) durante o primeiro debate do segundo turno das eleições municipais, promovido nesta segunda-feira (14) pela Band.
O candidato do PSOL acusou a gestão Nunes e a concessionária Enel de serem responsáveis pelo caos que viveu a cidade nos últimos dias. Ao criticar a atuação da prefeitura na zeladoria urbana, Boulos exagerou o número de árvores que estão em fila de poda. Nunes, por sua vez, ao defender sua gestão dos ataques, acabou fazendo uma afirmação contraditória ao dizer que a prefeitura de São Paulo tinha uma Secretaria Especial de Mudanças Climáticas — sem levar em consideração que nomeou para o cargo um negacionista da emergência climática. 
Saúde, impostos, drogas, rachadinha e escândalo de corrupção na educação também foram alvo de acusações mútuas e de declarações descontextualizadas de ambos os candidatos. 
Este foi o primeiro debate entre os dois candidatos do segundo turno. Na última quinta-feira (10), Boulos participou de uma entrevista promovida pela CBN, O Globo e Valor  que deveria ter sido um debate. Com a ausência de Nunes, o candidato do PSOL foi sabatinado.   
A Lupa checou as declarações dos candidatos. As assessorias dos participantes foram avisadas e as respostas enviadas serão incluídas no texto.
Confira a checagem:
“A gente teve um apagão [em São Paulo] há menos de 1 ano”
– Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Verdadeiro
Em novembro de 2023, devido às fortes chuvas, cerca de 2,1 milhões de pessoas ficaram sem energia na região metropolitana de São Paulo — o que inclui a capital paulista e mais 23 municípios. O dado refere-se aos clientes da concessionária Enel. Na cidade de São Paulo, cerca de 1,4 milhão de pessoas ficaram sem luz
 “300 mil famílias não estão podendo assistir a este debate porque estão sem luz”

– Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Verdadeiro
A Enel informou que até às 18h30 desta segunda-feira (14), 340 mil imóveis na Grande  São Paulo ainda estavam sem energia elétrica, após danos causados por uma forte chuva e vendaval que atingiram a região na noite de sexta-feira (11). 
Segundo a empresa, diversas áreas da rede elétrica sofreram danos severos, o que exigirá a reconstrução de trechos inteiros, incluindo a troca de postes, transformadores e outros equipamentos. A Enel também informou que pretende cumprir o prazo de três dias, estipulado nesta segunda-feira (14), pelo governo federal, para reestabelecer a energia em toda a capital paulista.
“A questão das mudanças climáticas é algo que tem impactado o mundo inteiro. A prefeitura de São Paulo tem uma Secretaria Especial de Mudanças Climáticas, uma inovação dentre tantos governos do mundo”
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Contraditório
Embora Ricardo Nunes tenha assinado, em 2021, o decreto que criou a Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas do município de São Paulo, o prefeito nomeou  um negacionista da emergência climática para assumir o cargo, o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro.
Pinheiro Pedro ocupou o cargo de secretário executivo de Mudanças Climáticas entre 2021 e 2023. Nesse período, falou publicamente em diferentes ocasiões não acreditar no aquecimento global. Em junho do ano passado, por exemplo, foi chamado de "negacionista" por uma procuradora durante um fórum realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No evento, o ex-secretário afirmou que o planeta Terra "se salva sozinho" do aquecimento global.
"O planeta não será salvo por nós, ninguém salva o planeta Terra. Geralmente ele se salva sozinho. Ele o faz há 4,3 bilhões de anos e muda o clima em todo esse período. Quando o planeta se salva, geralmente ele se livra do que está na superfície dele", disse Pinheiro Pedro. O vídeo com a fala do ex-secretário viralizou nas redes sociais dias depois. 
Após a declaração polêmica, Pinheiro Pedro foi exonerado por Nunes em julho de 2023. Na época, o advogado se defendeu e afirmou ter sido vítima de “difamação”: “Sou leal e não permitirei que esse lixo difamatório atinja o gabinete do prefeito. Por isso, peço minha demissão”, justificou o secretário. Em nota, a Prefeitura informou na ocasião que Nunes esteve reunido com Pedro e que a exoneração foi a pedido do secretário.
Em episódios anteriores, o ex-secretário também fez afirmações negacionistas. Responsável por ajudar a criar o programa ambiental do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Pinheiro Pedro declarou que o país não teve desmatamento recorde em 2019 — apesar dos dados apontarem o contrário. "Somos vítimas da má informação. Para começar, não tivemos desmatamento recorde", disse, em entrevista ao jornal O Globo, em 2019. Também defendeu a desidratação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), durante a fase de grupo de transição do governo Bolsonaro.
Em nota à Lupa, a assessoria de Nunes reafirmou a declaração do candidato durante o debate, de que é uma iniciativa pioneira e "demonstra o compromisso com uma cidade mais sustentável e resiliente".
"Estou desapropriando 11% [de área verde da cidade como de utilidade pública]"
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Verdadeiro
Em 21 de fevereiro deste ano, o prefeito Ricardo Nunes assinou decretos que declararam de utilidade pública (DUP) 32 áreas verdes particulares que somaram 16.531 hectares – isto é, cerca de 10,9% do território da capital – para serem destinados para preservação ambiental.
“Rachadinha pra mim é crime, sendo do Janones ou do Flávio Bolsonaro”
– Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Contraditório
Apesar de defender que “rachadinha” é crime, como deputado federal e relator do processo disciplinar contra o deputado federal André Janones (Avante-MG), Guilherme Boulos recomendou o arquivamento do caso no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
Em junho deste ano, o Conselho de Ética da Câmara aprovou – por 12 votos a cinco – o arquivamento do pedido de cassação do deputado mineiro. Na época, Janones era acusado de supostamente integrar um esquema de desvio de salários de assessores do gabinete dele para cobrir despesas de campanhas eleitorais.
No voto pelo arquivamento, Boulos disse que inexistia justa causa para o prosseguimento do caso no colegiado, por se tratar de "fatos ocorridos antes do início do mandato" e que, por isso, “não há decoro parlamentar, se não havia mandato à época”. O deputado ainda disse que, nesse sentido, o Judiciário faria seu trabalho na investigação. “Cabe a nós, do Poder Legislativo, e mais especificamente, do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, avaliar o caso dentro da competência que nos cabe", escreveu.
Boulos fez a mesma declaração em outros debates. Em 17 de setembro, no debate realizado por Rede TV!/UOL, Boulos usou a mesma justificativa ao ser questionado sobre o assunto. No entanto, o Código de Ética da Câmara não define que a cassação de mandato seja uma ação tomada apenas quando a infração foi cometida na atual legislatura. Além disso, não existe jurisprudência sobre esse tipo de caso na Câmara.
O deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), por exemplo, acusado de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, em 2018, teve a cassação de seu mandato aprovada pelo Conselho de Ética da Câmara em 28 de agosto deste ano — ainda que tenha sido acusado de um crime cometido quando ele era vereador na cidade do Rio, e não deputado federal. 
Em setembro deste ano, Janones foi indiciado, pela Polícia Federal, pela suposta participação no esquema de rachadinha. Foram apontados os crimes de associação criminosa, peculato e corrupção passiva. 
Boulos voltou a repetir essa afirmação em 3 de outubro, no debate da Globo, o último antes da votação do primeiro turno.
“Você [Ricardo Nunes] foi para o camarote do UFC e da Fórmula 1 [na época do apagão em São Paulo em novembro de 2023]”
– Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Verdadeiro
Em 3 de novembro de 2023, um temporal em São Paulo provocou um apagão que deixou mais de 2,1 milhões de clientes da Enel (empresa fornecedora de energia) sem luz por mais de 24 horas na Grande São Paulo — em algumas regiões, a energia voltou apenas três dias depois. Na época, o prefeito Ricardo Nunes compareceu a eventos do UFC São Paulo, em 4 de novembro, e à edição paulista da Fórmula 1, em 5 de novembro de 2023.
Nunes foi criticado por opositores, entre eles Guilherme Boulos. Na ocasião, o psolista o chamou de “rei do camarote” e acusou o prefeito de ter passado o dia “posando no camarote de eventos” enquanto a população da capital paulista sofria com a falta de energia. 
Nunes rebateu as críticas alegando ter passado noites em claro durante a crise do apagão e ainda associou Boulos ao Hamas, em referência à guerra com Israel. “Melhor (ser rei do camarote) do que ser rei do terrorismo. Se (Boulos) não tem o que fazer é melhor ele calar a boca e se informar melhor”, disse Nunes.
Essa foi a segunda vez na campanha do segundo turno em que Boulos recorreu a esse episódio para criticar Nunes: a primeira foi durante sabatina realizada pela CBN em 10 de outubro.
“São mais de 7 mil podas [de árvore] na fila de espera”
– Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Exagerado
Em nota enviada ao O Globo, nesta segunda-feira (14), a prefeitura de São Paulo informou que 6.087 árvores estão na fila de poda. Em agenda de campanha realizada por Nunes hoje (14), o atual prefeito informou ainda que as árvores estão em contato com a rede elétrica e que é necessário que a Enel desligue a energia nesses locais para realizar os serviços.
"Quem é responsável pelo contrato da Enel para avaliar se vai romper, se não vai romper, não é o governo federal. É a Aneel, uma agência reguladora."
– Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Verdadeiro
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é uma autarquia criada via decreto em 1997 em regime especial vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Dentre suas funções, está a de "fiscalizar, diretamente ou mediante convênios com órgãos estaduais, as concessões, as permissões e os serviços de energia elétrica". Apesar de estar vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a autarquia tem "autonomia patrimonial, administrativa e financeira". 
Segundo o decreto que criou a Aneel é responsabilidade da agência "intervir, propor a declaração de caducidade e a encampação da concessão de serviços e instalações de energia elétrica, nos casos e condições previstos em lei e nos respectivos contratos".
A nomeação do diretor-geral e dos demais diretores da agência, por outro lado, é de responsabilidade do presidente da República, por meio de prévia aprovação do Senado Federal. Os mandatos não coincidentes são de quatro anos. O atual diretor-geral Sandoval Feitosa foi nomeado em abril de 2022, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No sábado (12), a Aneel publicou nota sobre a intimação feita à Enel. "Caso a empresa não apresente solução satisfatória e imediata da prestação do serviço, a Agência instaurará processo de recomendação da caducidade da concessão junto ao MME". Em outra nota, publicada nesta segunda (14), a Aneel reforçou sua autonomia. 
O Ministério de Minas e Energia publicou nota no sábado (12) criticando a atuação da Aneel. "A agência claramente se mostra falha na fiscalização da distribuidora de energia, uma vez que o histórico de problemas da Enel ocorre reiteradamente em São Paulo e também em outras áreas de concessão da empresa", diz trecho do texto. 
"Pelo quarto ano consecutivo, nós temos vaga de creche para todas as crianças na cidade de São Paulo"
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Verdadeiro
A Prefeitura de São Paulo anunciou, em 17 de dezembro de 2020, que havia conseguido zerar a fila em creches pela primeira vez na história. Em 26 de março deste ano, matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo informou que a capital paulista chegou ao quarto ano seguido sem fila em creches – são mais de 350 mil crianças de até 3 anos atendidas nos Centros de Educação Infantil (CEIs) espalhados pelos bairros.
"Eu mandei projetos para a Câmara para reduzir o ISS, sabe aqueles aplicativos que a gente usa para chamar um iFood, um táxi, um aplicativo? Sabe quando você tem a sua Netflix? Todos esses impostos eu reduzi para 2%, de 5% para 2%"
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Falta contexto
Em novembro de 2021, o prefeito Ricardo Nunes reduziu a alíquota de diversos setores, incluindo serviços de entrega e transporte de passageiros por plataformas digitais — com o objetivo de atrair empresas. O projeto de lei foi embutido no reajuste da base de cálculo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). A Lei nº 17.719/21 reduziu a alíquota do ISS de 5% para 2% "para atividades desenvolvidas por plataformas digitais que atuam em áreas como de aluguéis, transporte de passageiros ou entregas e compra e venda de mercadorias (marketplace), administração de imóveis e atividades de audiovisual e serviços de monitoramento e rastreamento a distância de veículos, cargas e pessoas".
Somente em dezembro de 2023 é que a gestão Ricardo Nunes, por meio do Projeto de Lei nº 755/2003, reduziu de 2,9% para 2,0% a alíquota do Imposto Sobre Serviços (ISS) para plataformas de streaming, ou seja, "de serviços online que disponibilizam conteúdos audiovisuais, como filmes, séries e músicas, para serem assistidos ou ouvidos sob demanda pela internet", como explica a prefeitura em seu site.
A assessoria respondeu em nota que “Nunes propôs e obteve, de fato, a redução das alíquotas do ISS para serviços digitais de entrega e transporte de passageiros e para plataformas de streaming”. Porém, como explicado no texto acima, as reduções tiveram percentuais diferentes. 
“Vou te contar uma coisa, até a gestão do Haddad eram 3 UPAs, hoje são 30”
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Falta contexto
Fernando Haddad (PT) entregou as três primeiras Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24 horas da cidade de São Paulo no seu mandato, encerrado em 2016. Entretanto, a gestão do petista deixou 12 obras de UPAs em andamento. Elas foram entregues nas administrações seguintes, por João Doria (2017-2018) e Bruno Covas (2018-2021) — como confirma nota da prefeitura de São Paulo encaminhada à Lupa em checagem produzida em 2021.
No Plano de Metas 2013-2016 da gestão do ex-prefeito Fernando Haddad, na página 9, nota-se que o objetivo era implantar cinco Unidades de Pronto Atendimento até o final do mandato – o que não aconteceu. As três que foram inauguradas pelo petista são a UPA de Campo Limpo (2014), a UPA Vila Santa Catarina (2015) e a UPA 26 Agosto — Itaquera (2016).
Em resposta à Lupa, a equipe de Nunes reforçou que Haddad encerrou sua gestão na Prefeitura de São Paulo com apenas três UPAs em funcionamento e que atualmente, “há 30 UPAs em São Paulo, 19 delas entregues na gestão de Nunes".
"Agora, não existe nada dessa questão que você está falando com relação ao Coronel Mello [candidato a vice de Nunes] que não responde a nenhum inquérito, absolutamente nenhum"
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Falta contexto
De acordo com dados obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, por meio da Lei de Acesso à Informação, o coronel Ricardo Mello Araújo, vice de Ricardo Nunes, foi investigado ao menos oito vezes por homicídio enquanto esteve na Polícia Militar no período de 1992 a 2006.
Os crimes enquadravam-se no artigo 205 do Código Penal Militar, que trata de homicídio simples, com penas de 6 a 20 anos de reclusão. E em todos os casos, a PM concluiu haver indícios de “possível existência de crime militar” antes de encaminhar os inquéritos à Justiça Militar Estadual.
A Justiça Militar informou ao jornal que três processos foram arquivados e que os demais casos foram remetidos ao Tribunal do Júri, na Justiça comum, entre 2002 e 2007.
A equipe do candidato respondeu que "todos os inquéritos abertos sobre o coronel Mello Araújo foram arquivados pela Justiça, sempre a pedido do Ministério Público". Segundo a nota, nenhum dos inquéritos resultou na abertura de processo judicial, pois não foram identificados excessos ou ilegalidades. "O MP sempre considerou correto o comportamento de Mello Araújo".
“Você [Ricardo Nunes] precisa responder para as pessoas por que você indicou o cunhado do Marcola, do PCC, para cuidar do dinheiro da prefeitura de São Paulo”
– Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Falta contexto
Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras (Siurb) de São Paulo, deixou há mais de duas décadas de ser cunhado de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, principal líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC. Olivatto é irmão da advogada Ana Maria Olivatto, ex-mulher de Marcola que foi assassinada em outubro de 2002, aos 45 anos, após disputas internas da facção. Na época do assassinato, 22 anos atrás, ela e o líder do PCC já não eram mais casados, mas seguiam amigos. 
Reportagem publicada pelo UOL em 3 de outubro revelou que Olivatto, servidor de carreira da capital paulista, ocupou diferentes cargos na Prefeitura de São Paulo até ser nomeado chefe de gabinete da Siurb no início de 2021. Não há indícios de que a relação de sua irmã com o líder do PCC tenha se refletido de alguma forma na carreira de Olivatto como servidor. 
“Hoje nós já temos o Domingão Tarifa Zero, domingo não pagam passagem”
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Verdadeiro
A cidade de São Paulo passou a oferecer tarifa zero nos ônibus todos os domingos e em datas comemorativas, como Natal e Ano Novo, em 17 de dezembro de 2023. O programa é chamado "Domingão Tarifa Zero" e foi criado por Nunes. Para usar o benefício, basta utilizar o Bilhete Único, que não será debitado, ou os motoristas liberam as catracas para quem não possui o cartão.
De acordo com a prefeitura de São Paulo, em março de 2024, após três meses de operação, o programa registrou um aumento de mais de 31% no número de passageiros transportados aos domingos, em comparação com a média de 2023. Até o mês de março deste ano, mais de 42 milhões de passageiros foram atendidos gratuitamente.
“Para quem defende a liberação de drogas, que é o caso do Guilherme Boulos, não tem condições de falar desse tema”
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Falta contexto
Em 9 de agosto deste ano, Boulos mudou de posição sobre as drogas, ao afirmar em entrevista no programa evangélico do pastor Sezar Cavalcante, na rádio Musical FM, que não defende a legalização. Nas eleições de 2018, Boulos havia defendido a descriminalização das drogas durante uma entrevista à TV 247. No mesmo ano, em encontro com movimentos da juventude, ele defendeu a legalização da maconha.
Em resposta à Lupa, a assessoria de Nunes afirmou que o candidato do PSOL já defendeu a descriminalização de drogas em diversas ocasiões. "O próprio Boulos, ao longo da atual campanha eleitoral, participou de atos ao lado de correligionários defensores dessa bandeira e organizadores da Marcha da Maconha", diz a nota.
"[Liberação de drogas] está no Estatuto [do PSOL]"
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Falso
O Estatuto do PSOL não cita a questão de drogas ou entorpecentes. O documento estabelece as regras da legenda, com os objetivos da sigla, os direitos e deveres dos filiados. Em nenhum dos seus 120 artigos há qualquer cláusula defendendo a liberação de drogas.
“O presidente da Aneel foi indicado pelo Bolsonaro, aliado dele, e Lula não pode tirar porque tem mandato fixo”
– Guilherme Boulos (PSOL), candidato à prefeitura de São Paulo, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Verdadeiro
Sandoval de Araujo Feitosa Neto foi indicado, em 2021, pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) para o cargo de diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ele assumiu a função em agosto de 2022. No entanto, vale destacar que ele já atuava na Aneel, mas em outro papel. Em 2018, ele foi indicado pelo então presidente da época, Michel Temer (MDB), como diretor. As informações são do site da Aneel. O cargo de diretor-geral dura cinco anos, ou seja, a previsão é de que o mandato de Neto seja finalizado em 2027.
“Existe uma outra investigação há cinco anos, onde teve agora recentemente o indiciamento de 104 ou 107 pessoas [sobre a máfia das creches] que eu não fui indiciado”
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Falta contexto
Em julho deste ano, a Polícia Federal (PF) indiciou 117 pessoas em investigação sobre suposto desvio de verbas públicas destinadas ao atendimento de crianças de zero a três anos no município de São Paulo. O esquema, conhecido como “máfia das creches”, teria movimentado R$ 1,5 bilhão em cinco anos, entre 2016 e 2020, por organizações sociais e mantenedoras de centros de educação infantil e creches que prestam serviços para a prefeitura da capital paulista.
Embora o nome de Ricardo Nunes não esteja na lista dos 117 indiciados recentemente, a PF pediu à Justiça Federal uma autorização para abrir um inquérito específico sobre a relação do atual prefeito com uma empresa “noteira” (criada para operar fraude fiscal) em 2018, quando ele exercia mandato de vereador.
O objetivo da investigação seria apurar a relação de Nunes, quando ele ainda era vereador, com duas empresas envolvidas no esquema, a "Francisca Jacqueline Oliveira Braz Eireli" e a "Organização Social Associação Amiga da Criança e do Adolescente (Acria)".
Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, que obteve o documento da PF que pede a continuidade da investigação, a corporação listou uma série de suspeitas a serem apuradas sobre a suposta participação de Nunes na máfia das creches. Entre as suspeitas está um vídeo em que uma investigada no caso, Rosângela Crepaldi, diz ter repassado verba desviada de creches municipais para empresa ligada a mulher e filha de Ricardo Nunes.
No final de setembro, em depoimento ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Crepaldi mudou de versão sobre as acusações contra Nunes e declarou que “nunca soube ou sabe de nada irregular ou ilícito envolvendo o candidato à reeleição ou sua família”, que estava em um momento de “muita confusão e nervosismo em sua vida (...) e pode ter se equivocado com as palavras quando gravou o vídeo”.
Até o final de agosto, a PF ainda aguardava autorização da Justiça para seguir com a apuração. A defesa de Nunes pediu o arquivamento do caso e questionou a decisão do órgão de dar continuidade ao inquérito justamente no período eleitoral, após cinco anos de investigações. 
Em resposta à Lupa, a equipe do candidato afirmou — conforme explicado no texto da checagem — que Nunes não foi indiciado ao final da investigação, que durou cinco anos. "O candidato do MDB, aliás, nunca foi indiciado nem condenado, ao contrário de seu opositor no segundo turno destas eleições", acrescenta a nota. 
Porém, conforme já verificado pela Lupa no debate promovido por UOL/RedeTV! no primeiro turno (17/09), Boulos também não possui nenhuma condenação, como mostra o documento da Justiça Eleitoral de São Paulo (página 1).
“O que eu falei, e a gente tem que ter a humildade de ver quando a gente acerta e quando a gente erra, é de obrigar o passaporte da vacina. Da vacina, não. A vacina as pessoas têm que tomar”
– Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição, em debate realizado pela Band no dia 14 de outubro de 2024
Falso
Nunes não mudou de posição apenas a respeito do passaporte vacinal, mas também sobre a obrigatoriedade da vacinação. Em entrevista no dia 18 de setembro deste ano ao Podcast de Paulo Figueiredo, Nunes disse: “Teve muitas decisões que foram por parte do governo estadual, por exemplo, a questão da obrigatoriedade da vacina, né, aquele momento. Foi um momento bastante difícil. A obrigatoriedade da vacina, eu tenho muita tranquilidade depois de toda a experiência, e tenho humildade para te falar isso, né? Eu sou contra a questão da obrigatoriedade”. 
Em resposta enviada, a equipe de Nunes afirmou que "a vacinação não é nem nunca foi obrigatória" e que durante a pandemia de Covid-19 houve um forte  trabalho de conscientização realizado pela gestão municipal. No entanto, a nota não responde sobre a frase checada, que — como explicado no texto — trata da declaração do prefeito no podcast que contradiz o que foi dito no debate da Band.
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