UOL - O melhor conteúdo
Lupa
Na rede social de Trump, usuários espalham fakes sobre fraude em votos; conteúdos são replicados em português
04.11.2024 - 19h16
João Pessoa - PB
Truth Social, rede social criada por Donald Trump em 2022. Foto: Reprodução
"E eles querem te fazer acreditar que Kamala atrai multidões maiores do que Trump!! Você está brincando?!! Se conseguirmos parar a fraude eleitoral, Trump vence a eleição facilmente".
"Guarde os comprovantes de toda a fraude e reporte. Falha na máquina de votação de Kentucky bloqueia a escolha de Trump-Vance".
As mensagens acima, postadas por usuários da Truth Social (”Verdade Social”) — rede social criada em 2022 pelo ex-presidente e candidato Donald Trump —, replicam massivamente o discurso sobre fraude incitado pelo republicano sobre as eleições nos Estados Unidos, que ocorrem nesta terça-feira (5) e, de acordo com as pesquisas, será muito disputada. Por lá, as publicações seguem a mesma tática: denúncias sem provas de troca de votos para a candidata democrata Kamala Harris e alegações infundadas de roubo, que foram compartilhadas em 28 grupos bolsonaristas no Brasil em versões em português.
Na tarde desta segunda-feira (4), os assuntos mais comentados da rede social de Trump eram de apoio ao candidato. A hashtag #electionfraud aparecia como um dos principais tópicos discutidos pelos usuários. 
Muitas das postagens encontradas na rede social patrocinada por Trump são replicadas no X e em aplicativos de mensagens, inclusive no Brasil, sem o devido contexto. Dentre elas, um vídeo que mostra uma eleitora norte-americana tentando votar no ex-presidente Donald Trump. Ao clicar no nome do candidato, ela não consegue confirmar o voto. Após algumas tentativas o nome da candidata Kamala Harris é selecionado. A legenda que acompanha o vídeo diz que todas as urnas de votação antecipada no estado de Kentucky estão “trocando votos” e selecionando automaticamente Kamala Harris. 
A título de exemplo, esse conteúdo teve um alcance estimado de até 178 mil usuários distintos do WhatsApp e Telegram no Brasil, de 1º de novembro até a tarde desta segunda-feira (4), de acordo com levantamento feito pela Lupa no monitor da Palver. As publicações têm sido disseminadas majoritariamente em grupos públicos bolsonaristas, incluindo inverdades sobre o sistema de votação. "TECNOLOGIA BRASILEIRA SENDO EXPORTADA PARA TODO O MUNDO! Uma máquina de votação em Kentucky não permitiu que um eleitor selecionasse o nome de Donald Trump. Ao clicar no nome (Trump), a máquina seleciona automaticamente Kamala Harris. E lá vamos nós de novo!!!"
Posts alegam que máquinas de votação estão trocando votos de Trump por Kamala. 
A Lupa verificou o boato. O vídeo disseminado nas redes mostra uma questão pontual e não um problema generalizado em todas as urnas de votação no condado de Laurel, em Kentucky (EUA). Ao tomar ciência do suposto erro, as autoridades locais retiraram a urna eletrônica para análise. Tony Brown, um dos administradores eleitorais em Laurel, afirmou que sua equipe não conseguiu reproduzir o erro durante testes com a urna e que, de acordo com a eleitora, o voto foi computado corretamente. A fabricante da urna diz que o problema provavelmente foi devido a um erro do usuário.

Ataques a Kamala Harris

Por outro lado, quem defende na Truth Social a candidata democrata — número infinitamente menor — recebe ataques misóginos e racistas dos apoiadores de Trump. Kamala Harris muitas vezes é descrita na plataforma como "comunista" e "mentirosa". “A farsa racial de Kamala!!! Ela não tem parentes negros em sua linhagem e mentiu sobre ter uma avó negra", diz uma das postagens. O que é falso. "Ela não tem planos para consertar nada. Se ela assumir, a fronteira ficará completamente aberta pelos próximos 4 anos", postou um dos usuários. A candidata já defendeu em entrevista à imprensa que haverá mais controle de imigração em seu governo. "Tomarei novas medidas para manter fechada a fronteira entre os portos de entrada. Aqueles que cruzarem nossas fronteiras ilegalmente serão detidos, removidos e impedidos de reentrar por cinco anos", prometeu Kamala Harris, em visita à fronteira EUA-México, em setembro deste ano.
A tática também é de associar sem provas a candidata ao rapper estadunidense Sean Diddy Combs – mais conhecido como ‘P. Diddy’, preso em 16 de setembro sob acusação de abuso sexual. A prisão trouxe à tona os bastidores das festas que ele promovia nos anos 2000, com diversos relatos de relações sexuais sem consentimento. Esses eventos, conhecidos como “festas do branco” (ou “White Party”, em inglês), eram promovidos, segundo Diddy, para integrar rappers e artistas do Hip-Hop com os famosos de Hollywood.
Uma das alegações feitas por usuários é que artistas famosos, como a cantora Jennifer Lopez, estariam sendo forçados a apoiar Kamala Harris para evitar que imagens antigas deles em festas do rapper fossem divulgadas na imprensa. "Jennifer Lopez, que ficou assistindo Diddy extorquir e abusar sexualmente de homens, mulheres e crianças, agora está chorando e implorando para que você vote em Kamala Harris". Mensagens como essa já alcançaram mais de 320 mil usuários distintos no Brasil, de 1º de novembro até a tarde desta segunda-feira (4).
Uma das postagens usa uma imagem que mostra Jennifer Lopez junto com o rapper e mais três homens em roupas íntimas, supostamente durante uma orgia. Entretanto, é uma montagem.
Uma outra publicação disseminada na Truth Social é de uma imagem da candidata Kamala Harris vestida com um uniforme do McDonald 's. A fotografia começou a circular após Donald Trump acusar a candidata democrata de mentir sobre ter trabalhado na rede fast food. A imagem também é uma montagem.
Entretanto, a alegação dos usuários é de que a postagem foi veiculada pela própria equipe de Kamala Harris como prova de que a vice-presidente de fato trabalhou no McDonald 's. Contudo, não há qualquer evidência de que essa afirmação, de que foram os próprios democratas que fizeram isso, seja verdadeira. 

Todos os conteúdos da Lupa são gratuitos, mas precisamos da sua ajuda para seguir dessa forma. Clique aqui para fazer parte do Contexto e apoiar o nosso trabalho contra a desinformação.

LEIA TAMBÉM
Clique aqui para ver como a Lupa faz suas checagens e acessar a política de transparência
A Lupa faz parte do
The trust project
International Fact-Checking Network
A Agência Lupa é membro verificado da International Fact-checking Network (IFCN). Cumpre os cinco princípios éticos estabelecidos pela rede de checadores e passa por auditorias independentes todos os anos.
A Lupa está infringindo esse código? FALE COM A IFCN
Tipo de Conteúdo: Reportagem
Conteúdo investigativo que aborda temas diversos relacionados a desinformação com o objetivo de manter os leitores informados.
Copyright Lupa. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização.

Leia também


05.12.2024 - 18h27
Redes Sociais
Mudar o Marco Civil da Internet resolve a desinformação no Brasil? O que dizem especialistas

O Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a julgar, nesta semana, a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que dispõe sobre a regulação e responsabilização das plataformas de redes sociais. Especialistas divergem quanto aos potenciais impactos da derrubada deste dispositivo sobre o problema da desinformação no Brasil.

João Pedro Capobianco
05.12.2024 - 16h35
Senado
Regulamentação de IA avança, mas algoritmos de big techs saem da lista de alto risco

O relatório final do PL da IA foi aprovado nesta quinta-feira (5) pela Comissão Temporária sobre Inteligência Artificial do Senado. O texto traz alterações como a exclusão de exigências excessivas na classificação de risco dos modelos de recomendação automática de conteúdos das redes sociais. A mudança foi alvo de críticas, entenda: 

Carol Macário
02.12.2024 - 12h14
Política
No Youtube, canal de receitas lucra com teorias falsas sobre morte de Lula

Um canal de vídeos de receitas culinárias no Youtube, com mais de 2,3 milhões de usuários, tem disseminado teorias conspiratórias e fakes já desmentidas para aumentar a audiência e monetizar seu conteúdo. Dentre as alegações propagadas pelo ‘Receitas do Noca’, está a de que o presidente Lula morreu e em seu lugar há um sósia.

Ítalo Rômany
25.11.2024 - 10h00
Eleições
Mulheres ocuparão menos de 20% das cadeiras no legislativo municipal; 47 pessoas trans foram eleitas

No primeiro turno, mais de 57,8 mil vereadores foram eleitos nos 5,5 mil municípios brasileiros. A maioria deles é branco, homem cisgênero, hetero e sem ensino superior. Apenas 47 cadeiras no legislativo municipal foram preenchidas por pessoas trans. As mulheres representam apenas 18,2% dos candidatos eleitos.

Francisco Amorim
21.11.2024 - 14h38
Internacional
Depois de mil dias de guerra, Rússia nega apoio da Coreia do Norte e mente sobre Síria

A guerra entre Rússia e Ucrânia chegou ao seu milésimo dia, nesta quarta-feira (20), ainda dominada por uma ampla e organizada rede de desinformação russa que chega até ao Brasil. As novas campanhas do Kremlin negam o envolvimento de soldados norte-coreanos no conflito e apontam que o governo ucraniano está treinando terroristas na Síria.

Maiquel Rosauro
Lupa © 2024 Todos os direitos reservados
Feito por
Dex01
Meza Digital