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Deepfake com imagem de advogada é golpe para promover falsa indenização
13.12.2024 - 18h29
Rio de Janeiro - RJ
Circula nas redes sociais um vídeo em que uma advogada supostamente responde a uma pergunta que recebeu no Instagram sobre o pagamento de uma taxa administrativa para ter acesso a uma indenização por vazamento de dados. O vídeo mostra a advogada confirmando a necessidade do pagamento e afirmando que se trata de uma transação segura, essencial para ter acesso ao benefício. É falso. O vídeo foi criado com deepfake. 
Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​: 
“Doutora, consegui sacar minha indenização, mas paguei uma taxa administrativa. Está certo isso? Sim, está certo, sim. Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiros terão direito a essa indenização que pode chegar a até R$ 30 mil. Lembrando que em alguns casos é normal uma pequena taxa a ser paga, mas o pix da indenização cai na hora. Eu vou deixar o link aqui na descrição para vocês consultarem”

– Transcrição do vídeo que circula nas redes sociais
Falso
O vídeo não é verdadeiro e foi criado com deepfake. Além disso, o benefício de indenização citado no post não existe. A Lupa identificou, no Tik Tok, a gravação original e verificou que golpistas utilizaram a imagem da advogada Anna Carollina, que nunca promoveu a suposta indenização. 
No vídeo original, publicado pela especialista em direito trabalhista, que faz diversos posts nas redes sobre o assunto, é abordado, na verdade, como o trabalhador deve buscar seus direitos durante o encerramento de um contrato de trabalho pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
A Lupa procurou a advogada Anna Carollina que confirmou que nunca fez a propaganda e reforçou que o conteúdo apresenta indícios de que foi feito com inteligência artificial. “Quem entende um pouco já vê que o vídeo é falso, pois a dicção não acompanha a fala e a qualidade é bem ruim, mas, infelizmente, muitas pessoas acreditam e acabam clicando no link que eles colocam”, disse. “A dica que a gente dá aos clientes é sempre verificar toda a informação que se vê na internet, principalmente, aquelas que são vinculadas a qualquer tipo de pagamento ou promessa de benefício”.

O golpe

O vídeo criado com técnicas de IA promove uma suposta indenização que seria oferecida a pessoas que tiveram dados vazados. Segundo a narrativa falsa, depois de verificar o benefício no site, é necessário pagar uma “taxa administrativa”. 
A Lupa tentou acessar o link, no entanto, ao longo do dia 11 de dezembro, o endereço apresentava instabilidade. No final  da noite, o site foi alterado para um portal que prometia valores a serem resgatados — outro golpe frequentemente encontrado nas redes. Ao clicar no botão “Verificar se tenho valores para receber”, a página não carregou.
Captura do site que promete valores financeiros
De todo modo, a afirmação de que é necessário pagar uma “taxa administrativa” para ter acesso a uma indenização por vazamento de dados não é nova e já foi verificada pela Lupa em outros golpes. Trata-se de uma estratégia bem comum em que é criada uma narrativa alarmista sobre um falso “vazamento de dados” que exige o pagamento de uma taxa para tirar dinheiro das vítimas. 
É importante lembrar que, conforme alerta o Ministério da Justiça e Segurança Pública, no caso de suspeita de vazamento de dados, o ideal é conferir se realmente o fato ocorreu por meio do contato com autoridades oficiais ou com o serviço que faz a administração das informações, como os bancos, por exemplo. Não deposite sua confiança em afirmações que são repassadas por terceiros, sempre desconfie e contate diretamente o provedor que supostamente fez o vazamento para checar as informações. 

Casos semelhantes

Em setembro deste ano, circulou nas redes sociais um vídeo em que o então candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, afirmava que houve um vazamento de dados no país e, por isso, o governo federal criou o programa “Indeniza Brasil”. O conteúdo também havia sido criado com deepfake. Além disso, depois de fornecer dados pessoais para fazer a falsa consulta ao benefício, a plataforma também solicitava o pagamento de uma taxa de R$ 61,91 para que a transação fosse efetuada. 
Em outro golpe visto pela Lupa em setembro, a imagem do advogado e deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP) foi manipulada com deepfake para fazer parecer que o parlamentar havia afirmado que bandeiras de cartão de crédito tinham liberado um “cashback” para os clientes. O conteúdo também levava o usuário para um site de golpe e, além de solicitar dados pessoais, pedia que fosse feito o pagamento de uma “tarifa transacional” de R$ 37,48. 

Comentários reforçam a narrativa do golpe

A Lupa verificou que no post do vídeo que manipulou o conteúdo da advogada Anna Carolline, existem vários comentários de supostos usuários que alegam terem recebido o valor da indenização após o pagamento da taxa. O que chama a atenção, no entanto, são os nomes e fotos destes perfis. Um deles se apresenta como “Governo Federal” e afirma que conseguiu fazer o saque e as “compras de casa que estava[m] faltando”.
Comentários falsos no post desinformativo
Nota-se, ainda, na imagem acima que usuários chamados “Carol Menezes” e “Marina Souza” também fizeram comentários positivos. As contas possuem a mesma foto de perfil. Essa imagem, de mulher com cabelos pretos, também é a mesma utilizada pelo usuário que fez a publicação desinformativa. A Lupa pesquisou pela fotografia, com ferramentas de busca reversa, e verificou que a foto está disponível no site FreePik, um banco de imagens. Inclusive, a imagem de perfil da conta que fez o post desinformativo tem a marca d’água do FreePik. 
À esq., captura do post desinformativo; ao centro, perfil que fez a publicação no Facebook, à dir., imagem da conta que fez o conteúdo 
À esq., imagem que foi identificada no site do Freepik, à dir. fotografias similares encontradas no banco de fotos
É comum que, para fortalecer a promoção do golpe, as pessoas por trás dessas fraudes criem vários perfis para fazer comentários nas publicações a fim de passar credibilidade para as vítimas. 

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