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É falso que Mauro Cid nunca usou a palavra ‘golpe’ em delação
13.03.2025 - 15h32
Rio de Janeiro - RJ
Circula nas redes sociais um áudio em que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirma que, na delação feita ao Supremo Tribunal Federal (STF), não utilizou a palavra “golpe”. É falso. 
Por WhatsApp, leitores sugeriram que o conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​: 
Mauro Cid diz que não falou palavra ‘golpe’ em delação  

– Legenda do vídeo que circula nas redes sociais
Falso
O tenente-coronel Mauro Cid utilizou o termo “golpe” pelo menos uma vez na delação que ocorreu na sala de audiências do Supremo no dia 22 de março de 2023. A Lupa analisou os vídeos da sessão – que foram disponibilizados publicamente no dia 20 de fevereiro deste ano por uma decisão do ministro Alexandre de Moraes que derrubou o sigilo das gravações – e é possível conferir o momento em que Cid se refere ao episódio do 8 de janeiro como um “golpe”. Além disso, em outros trechos, Moraes faz perguntas utilizando a palavra “golpe” e Cid assente e não faz objeções. 
No trecho que marca 2 horas e 4 minutos, Cid disse que havia uma pressão para o golpe:
“E o pessoal do agro não vendo nada acontecer, [mas] eles queriam, eles achavam que ia acontecer alguma coisa e eles estavam ‘hoje, hoje vai acontecer, hoje vai acontecer’. Então,  eles estavam nessa angústia de esperar que fosse dado golpe, esperar que o presidente [Bolsonaro] assinasse um decreto e as Forças Armadas fizessem alguma coisa”, afirma Mauro Cid.
Cid volta a usar o termo golpe quando, no mesmo depoimento, Moraes o questiona sobre uma troca de mensagens entre ele e o militar da reserva Aparecido Portela, que é filiado ao PL e ocupa cargo de suplente da senadora Tereza Cristina (PP-MS) – no dia 26 de dezembro de 2022. Na conversa, Portela pergunta se o “churrasco seria feito”, porque “o pessoal que contribuiu com a carne estava cobrando”. Na audiência, Cid confirma ao ministro que o “churrasco” seria o golpe. Essas expressões que camuflavam o fato real foram, inclusive, repercutidas na imprensa
Na mensagem em resposta à Portela, o tenente-coronel diz: “Vai, sim. Ponto de honra. Nada está acabado da nossa parte”. Questionado sobre o que quis dizer sobre a afirmativa anterior, Cid responde. “O presidente [Bolsonaro] ainda mantinha a chama acesa de que poderia acontecer alguma coisa” caso houvesse apoio das Forças Armadas, especificamente do Exército, para um golpe armado.
Além disso, ainda na mesma audiência, Mauro Cid confirma outra pergunta que o ministro Alexandre de Moraes faz sobre a minuta do golpe. Segundo Cid, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou minuta de golpe, durante uma reunião, ao na época comandante de Operações Terrestres do Exército, general Estevam Theophilo. “O senhor disse no depoimento passado que o presidente mostrou a minuta do golpe aos comandantes?”, pergunta Moraes. “Eu creio que sim”, responde Cid.

Quem é Mauro Cid?

Mauro Cesar Barbosa Cid, conhecido como Mauro Cid, foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro nos quatro anos de mandato do ex-presidente. O nome de Cid é envolvido em diversas investigações. Preso em maio de 2024 – após ter sido alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga a inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid no sistema do Ministério da Saúde – e solto em 3 de maio. 
Cid ganhou mais notoriedade na investigação sobre o golpe do 8 de janeiro e no desenrolar da investigação de uma tentativa de golpe que se amparou na criação núcleo de desinformação comandado por Bolsonaro e aliados como Cid. 
No caminhar da investigação, Cid aceitou um acordo de delação premiada, e pediu que, em troca das informações sobre os ataques de 8 de janeiro, sua pena de prisão fosse de no máximo dois anos e que seus bens e valores apreendidos fossem restituídos. Após a delação e a investigação da PF, a Procuradoria-Geral da República denunciou o ex-presidente e os 33 envolvidos e apresentou denúncia ao STF
As defesas dos denunciados já foram trazidas à Corte e atualmente o Supremo aguarda a manifestação da PGR sobre a análise das defesas prévias apresentadas pelos acusados. 
A Lupa procurou a defesa de Mauro Cid, mas, até o fechamento desta verificação, não obtivemos resposta.

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