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Post engana ao usar estudo preliminar da Cleveland Clinic para afirmar que vacina da gripe é ineficaz
15.04.2025 - 15h14
Rio de Janeiro - RJ
Circula nas redes a alegação de que a vacina contra a gripe seria ineficaz na prevenção da doença, com base em um estudo conduzido pela Cleveland Clinic. É falso
Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
“Vacina da gripe é ineficaz na prevenção da doença, conclui estudo da Cleveland Clinic”
– Texto em imagem que circula nas redes sociais
Falso
A pesquisa da Cleveland Clinic não conclui que a vacina da gripe seja ineficaz na prevenção da doença; a pesquisa se limita a um grupo muito específico e não deve ser generalizado. Ou seja, é incorreto afirmar que o estudo prova que “a vacina da gripe é ineficaz”, como sugere a publicação enganosa. 
O que o estudo mostra é que, em um recorte específico — funcionários da Cleveland Clinic em Ohio (EUA), majoritariamente saudáveis, com idade média de 42 anos (páginas 5 e 8) —, a aplicação de uma formulação específica da vacina, durante a temporada 2023–2024, não foi associada à redução do risco de infecção confirmada por teste. 
Além disso, trata-se de uma pré-impressão: um projeto de artigo que ainda não foi submetido a uma publicação científica nem revisado por pares. O documento, inclusive, destaca essa informação e alerta que seus dados não devem ser usados para orientar decisões de saúde pública. 
“Este artigo é uma pré-impressão e não foi revisado por pares. Ele relata novas pesquisas médicas que ainda não foram avaliadas e, portanto, não devem ser usadas para orientar a prática clínica”, descreve o alerta na introdução do documento
Alerta na introdução da pesquisa descreve que se trata de uma pré-impressão e que a pesquisa ainda não foi revisada. Imagem: Reprodução.
Publicada no medRxiv, repositório digital de pré-impressões — e não artigos científicos  validados — a pesquisa analisou 53.402 funcionários da Cleveland Clinic durante a temporada de gripe de 2024–2025. Os pesquisadores observaram que, nesse grupo, os vacinados apresentaram um maior risco de testar positivo para gripe em comparação aos não vacinados. Isso se traduziu em uma eficácia vacinal estimada de -26,9% (página 2).
Apesar do resultado, os próprios autores pedem cautela na interpretação. 
“A vacina utilizada foi a vacina inativada trivalente contra influenza em cerca de 99% da nossa coorte [experiência de um grupo exposto a um fator com a de outro grupo não exposto]. A possibilidade de outras vacinas contra gripe terem sido mais eficazes não pode ser excluída”,
– página 11 da pesquisa.
Uma porta-voz da Cleveland Clinic foi ouvidapelo Instituto Poynter e também ressaltou que a amostra usada no estudo não representa a população em geral. Por isso, os resultados — preliminares, já que se trata de uma pré-impressão — não devem ser interpretados como uma regra válida para todas as populações. 
“Os dados vieram de uma população relativamente saudável de cerca de 50.000 profissionais de saúde e não representavam a população em geral”,
– Andrea Pacetti, porta-voz da Cleveland Clinic.

Estudo não avalia o principal benefício da vacina: reduzir mortes e hospitalizações

A biomédica e pesquisadora Mellanie Fontes-Dutra, da Rede Análise, entrevistada pela Lupa, também reforça que os trabalhadores da saúde — foco do estudo — podem ter maior risco de exposição à doença, afetando os resultados da pesquisa. Ela ressalta, que o estudo não observa se o imunizante testado reduziu a gravidade da doença. 
“Funcionários de clínicas e hospitais podem ter maior risco de exposição à doença, especialmente pensando que a vacina não é idealizada para prevenir a infecção, e sim prevenir a doença grave, seus agravos e óbitos”, explica Mellanie. 
Essa limitação é, inclusive, reforçada pelos pesquisadores:
 “O estudo não foi desenhado para comparar o risco de hospitalização ou mortalidade associada à gripe, nem para examinar se a vacina diminuiu a gravidade da doença”
– página 10 do estudo.
Para o epidemiologista Isaac Schrarstzhaupt, consultor técnico por produto em análise de dados de imunização para a OPAS/OMS e divulgador científico pela Rede Análise, essa limitação é central. “A grande maioria dos estudos de efetividade considera desfechos graves, como hospitalizações e mortes, não apenas a infecção confirmada por teste”, afirma.
Além disso, a população analisada no estudo também não reflete os principais grupos prioritários das campanhas de vacinação contra a gripe — justamente os mais vulneráveis às complicações causadas pelo vírus. “A população [pesquisada] não incluía crianças e havia muito poucos idosos ou indivíduos imunocomprometidos”, explicou uma porta-voz da Cleveland Clinic, em entrevista ao Instituto Poynter.
Inclusive, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estado Unidos da América (EUA), onde a pesquisa foi conduzida, explica que a vacina contra gripe reduz de 40% a 60% o risco de que infectados procurem o médico, reforçando que ela é eficaz na redução dos riscos da doença.

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