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Golpes de falsos concursos avançam nas redes com ajuda de anúncios pagos na Meta
02.07.2025 - 17h18
Rio de Janeiro - RJ
Nos últimos meses, uma nova onda de fraudes digitais tem ganhado força no Brasil: os falsos concursos públicos. A estratégia combina a estética de editais oficiais e logomarcas do governo com o impulsionamento de posts por meio de anúncios pagos no Instagram e Facebook. Tudo é roteirizado para parecer legítimo, com logos, linguagem institucional e promessas de vagas em todo o país. Mas, no fim da linha, o que espera o candidato é o golpe: uma cobrança disfarçada de taxa de inscrição — quase sempre via Pix.
Em junho, a Lupa identificou e desmentiu três campanhas enganosas do tipo. A mais recente, anunciava um suposto processo seletivo emergencial para agentes temporários do Exército em todo o Brasil. Outra prometia vagas de gari no "Brasil Mais Limpo”, programa inexistente falsamente atribuído ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). A terceira oferecia empregos no “Agente Escola do Futuro”, uma iniciativa que nunca foi promovida pelo Ministério da Educação, que foi anunciada como oficial nas redes sociais.
Todos os casos seguiam o mesmo roteiro: anúncios pagos nas redes sociais, links que direcionavam a sites que imitavam páginas oficiais e uma suposta exigência de pagamento de taxa de inscrição. 
A armadilha dos golpistas é eficiente. Uma apuração da Lupa mostrou que uma família de São Paulo perdeu quase R$ 500 em apenas dez minutos ao cair em um desses esquemas. A promessa era de vagas para agente de saúde, com salário de até R$ 5.000, supostamente oferecidas pelo Ministério da Saúde. O anúncio aparecia no Instagram com aparência oficial e levava a um site que imitava portais governamentais — tática recorrente em golpes digitais (1,2 e 3).
Criminosos impulsionam anúncios de falsos concursos para aplicar golpe. Imagem: Reprodução.
No Reclame AQUI, usuários também relataram ter sido vítimas do falso concurso do Exército Brasileiro. Até a tarde desta segunda-feira (30), ao menos 14 queixas relacionadas ao golpe foram localizadas pela Lupa na plataforma. Em nove casos, as vítimas disseram ter visto anúncios no Instagram ou Facebook, que as redirecionaram para sites falsos com identidade visual semelhante à de portais oficiais. Após preencherem dados pessoais, os usuários eram instruídos a fazer pagamentos via Pix, acreditando estar se inscrevendo em um processo legítimo. Nenhum retorno foi recebido depois do pagamento da suposta taxa.
Usuários relatam golpe em queixas no Reclame AQUI. Imagem: Reprodução.
Os casos não são isolados. Eles refletem a sofisticação da engrenagem dos golpes digitais no país, como mostrou um estudo recente da Lupa. Criminosos utilizam a inteligência artificial para criar vídeos falsos com autoridades recomendando os programas, uma rede coordenada de perfis que anunciam em plataformas como Facebook e Instagram e sites com layouts que imitam com perfeição os portais do governo federal. Além disso, aproveitam dados pessoais obtidos ilegalmente para forjar credibilidade e tornar os esquemas ainda mais convincentes.


Como se proteger

Para evitar cair em golpes digitais que usam falsos concursos e programas oficiais, adote cuidados simples, mas eficazes. Veja abaixo: 

STF e AGU cobram big techs que lucram com anúncios falsos

Por oito votos a três, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, na última quinta-feira (6), que plataformas de redes sociais podem ser responsabilizadas diretamente por postagens ilegais de seus usuários. A decisão foi tomada no julgamento sobre a validade do artigo 19 do Marco Civil da Internet.
A partir de agora, plataformas como Facebook, Instagram, Threads, X e Google precisam monitorar e impedir proativamente anúncios enganosos — como os falsos concursos — sob risco de sofrer sanções caso falhem em agir com rapidez e eficácia. 
Em abril de 2025, a Advocacia-Geral da União (AGU) já havia ingressado com uma ação civil pública solicitando que a Meta adotasse medidas eficazes para barrar a veiculação de conteúdos fraudulentos nas redes sociais, como Facebook e Instagram. A ação busca coibir o uso indevido de símbolos oficiais do governo federal e a manipulação de imagens e vídeos de autoridades em anúncios enganosos.
Um relatório do NetLab/UFRJ, usado como base pela AGU no processo contra a Meta, identificou 1.770 anúncios fraudulentos impulsionados no Facebook e Instagram em somente 11 dias — entre 10 e 21 de janeiro de 2025 (página 6). O estudo, intitulado “Danos causados pela publicidade enganosa na Meta”, mostra como criminosos exploraram políticas públicas de inclusão financeira para aplicar golpes por meio de anúncios pagos nas redes da empresa.  
Em junho, a Justiça Federal negou o pedido liminar feito pela AGU para antecipar a adoção de medidas, sob a justificativa de que o tema estava em análise pelo STF.
A decisão do Supremo também estabelece que as plataformas são obrigadas a remover conteúdos ilegais após notificação extrajudicial — ou seja, sem a necessidade de decisão judicial. Entre os tipos de conteúdo estão atos antidemocráticos, terrorismo, induzimento ao suicídio ou automutilação, incitação à discriminação por raça, religião, identidade de gênero, condutas homofóbicas e transfóbicas, crimes contra a mulher, discurso de ódio contra mulheres, pornografia infantil e tráfico de pessoas.
A Lupa procurou a AGU para comentar o avanço de golpes digitais nas redes, mas, até o momento da publicação da reportagem, não obteve retorno.

O que diz a Meta

Em nota à Lupa, a Meta informou: “Atividades que tenham como objetivo enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidas em nossas plataformas e estamos sempre aprimorando a nossa tecnologia para combater atividades suspeitas. Também recomendamos que as pessoas denunciem quaisquer conteúdos que acreditem ir contra os Padrões da Comunidade do Facebook, das Diretrizes da Comunidade do Instagram e os Padrões de Publicidade da Meta através dos próprios aplicativos”. 

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