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O que é Big Tech?
02.12.2024 - 17h14
Rio de Janeiro - RJ
Geralmente, associamos que quando uma empresa tem influência ou poder sobre nós,  é porque sua relação com ela é de empregado-empregador. Mas, já parou para pensar na influência de empresas que sabem os seus dados, pautam o que você consome e até influenciam no seu voto? De buscas no Google até o compartilhamento de uma foto no Instagram, passando por compras na Amazon, nossa rotina está cercada por produtos e serviços fornecidos – alguns aparentemente de graça – pelas maiores empresas de tecnologia do planeta. Essas corporações, conhecidas como Big Techs, moldam não apenas a forma como consumimos informações e entretenimento, mas também o modo como interagimos com o mundo à nossa volta.
Embora muitas vezes sejam confundidas com redes sociais (ferramentas usadas por elas para acumularem dados), as Big Techs vão muito além disso. Elas criam e controlam ecossistemas digitais completos, de softwares e dispositivos até soluções em inteligência artificial generativa e serviços de nuvem. Mas o que, exatamente, diferencia uma Big Tech de uma rede social? E por que precisamos entender o impacto dessas gigantes em nossas vidas? 
Neste artigo, você encontra: 
  • Afinal, o que é… Big Tech?
  • Que Big Techs estão no seu dia a dia? 
  • Big techs e redes sociais: qual é a diferença?
  • Big techs e meus dados: o que tem a ver?
  • Como as Big Techs moldam o mundo digital?
  • Tempo, dados e consumo: por que entender as big techs?  

Afinal, o que é…  Big Tech?

Big Techs são as gigantes do setor de tecnologia, que dominam o cenário global, exercendo influência profunda nas esferas econômica, cultural, social e política. O termo se refere a empresas como Alphabet (proprietária do Google e YouTube), Meta (proprietária do Facebook, Instagram, WhatsApp), Amazon, Apple, e Microsoft, que lideram serviços variados, desde sistema de busca na internet e redes sociais até plataformas de comércio eletrônico, inteligência artificial generativa e serviços de nuvem.
Essas corporações ultrapassam o papel de simples provedoras de tecnologia: elas moldam comportamentos, estruturam mercados e impactam diretamente a vida de bilhões de pessoas, configurando-se como verdadeiras potências globais que vão muito além da tecnologia digital e que podem chegar a ter maior influência do que alguns países em tomadas de decisão envolvendo questões políticas e econômicas no cenário global – o que é extremamente preocupante.
E é por isso que precisamos falar do assunto.
 
Que Big Techs estão no seu dia a dia? 
Você sabe identificar quais Big Techs são as proprietárias  dos serviços que você consome diariamente, desde a hora que acorda ao momento em que vai deitar?
Empresas deste tipo não se limitam a um único setor ou serviço. Elas operam como conglomerados multissetoriais, impactando desde o entretenimento até o mercado de trabalho, saúde e educação. Afinal, quanto mais diversificada a atuação, maior seu alcance e influência sobre os diferentes públicos. Maior também o volume de dados e capacidade de cruzá-los, a fim de obter um raio-X dos padrões de comportamento e consumo dos usuários. 
Big Techs e Redes Sociais: Qual é a diferença?
É muito comum ter dúvidas e confundir Big Techs com redes sociais. Redes sociais são plataformas focadas em conectar pessoas, estimular o compartilhamento de conteúdo e promover interações a partir deles – sejam elas positivas e saudáveis ou negativas e perigosas, como no caso de conteúdos desinformativos. Instagram, Facebook, TikTok,  YouTube e X (antigo Twitter) são alguns dos exemplos mais populares. 
Nesse ponto, já temos uma boa reflexão a ser feita: o Instagram é, originalmente, uma plataforma de compartilhamento de fotos, mas que hoje é movida pelas conversas, comentários e diversos tipos de interação existentes entre seus usuários. O Facebook também tem sua tônica em comentários e não somente no compartilhamento de publicações. O TikTok vai na mesma direção, mas como foco em vídeos curtos e tem até brindes por interações. Já o YouTube poderia ser originalmente definido como um mero repositório de vídeos online, mas hoje tem grande parte de seu engajamento a partir dos recursos dos canais, como comentários, seguidores e transmissões de vídeos ao vivo.
É interessante notar que apesar da grande ênfase nas interações e trocas de conteúdos entre usuários, o que todos os modelos de redes sociais têm em comum é o uso de dados para outros fins que não apenas aqueles diretamente ligados ao funcionamento das plataformas pelas Big Techs. 
O que está em jogo é a atenção do usuário. Conectado, ele produz dados.

Big Techs e meus dados: o que tem a ver?  
Ao concordar com os termos de uso de uma rede social, você está autorizando que seus dados sejam disponibilizados à plataforma. Assim, eles ficam à disposição das big techs, que podem utilizá-los para diferentes fins, em outros produtos e serviços.  
Por exemplo:
  • O Instagram e o Facebook são redes sociais, mas fazem parte da Meta, que também investe em tecnologia de realidade virtual e inteligência artificial.
  • O YouTube é uma plataforma de vídeos controlada pela Alphabet, que também lidera o mercado de buscas com o Google e atua em áreas como cloud computing, a famosa nuvem que guarda desde os seus e-mails até sua conta no banco. 
  • O LinkedIn, rede social profissional, é apenas uma fração do portfólio da Microsoft, que inclui sistemas operacionais, serviços de nuvem e inteligência artificial. Por isso, muitas empresas acabam usando o Teams…
Em suma, enquanto as redes sociais são focadas na interação social, as Big Techs têm ações e intenções  mais amplas: criar ecossistemas integrados que se tornam indispensáveis ao usuário. 
Como as Big Techs moldam o Mundo Digital?
  • Controle de Mercados: A Apple, com sua App Store, determina quais aplicativos podem ser baixados em seus dispositivos. Desenvolvedores precisam pagar taxas de até 30% para oferecer seus serviços na plataforma, o que gerou críticas sobre práticas anticompetitivas.
  • Monopólio de Informação: O Google domina mais de 90% do mercado global de buscas, tornando-se a principal fonte de informações para bilhões de pessoas. Com isso, controla o que aparece (ou não) em nossas pesquisas na internet.
  • Economia da Atenção: Plataformas como o Instagram e o YouTube usam algoritmos para nos manter conectados por mais tempo. Baseados em dados pessoais, esses algoritmos priorizam conteúdos que aumentem nosso engajamento, muitas vezes criando ciclos viciantes. E, por vezes,  desinformativos. 
  • Coleta de Dados e Privacidade: O caso Cambridge Analytica, revelado em 2018, marcou um divisor de águas na discussão sobre coleta de dados e privacidade. A consultoria política obteve, de maneira indevida, informações de mais de 87 milhões de usuários do Facebook, por meio de um aplicativo de quiz que acessava não apenas os dados de quem o utilizava, mas também de seus contatos. Esses dados foram usados para criar perfis psicológicos detalhados, permitindo campanhas altamente segmentadas e direcionadas. O objetivo era influenciar comportamentos e decisões políticas, como na eleição de Donald Trump em 2016 e na campanha do Brexit no Reino Unido.

    O escândalo revelou os perigos da coleta massiva de dados em plataformas digitais e a falta de transparência no uso dessas informações. Usuários foram expostos a estratégias de manipulação, com anúncios personalizados que exploravam medos e emoções, muitas vezes sem consentimento. A controvérsia evidenciou lacunas nas políticas de privacidade, além de práticas questionáveis das plataformas que priorizam lucro e engajamento em detrimento da proteção dos dados de seus usuários.
  • Domínio de Infraestrutura: A Amazon Web Services (AWS), um braço da Amazon, é a maior provedora de serviços de nuvem do mundo. Isso significa que muitas empresas, de startups a gigantes como Netflix, dependem da infraestrutura da Amazon para operar. E até mesmo o seu e-mail. É como pensar num grande armazém… Você, com muitos móveis em sua casa, prefere guardar num galpão. Quando você tem muitos dados na sua conta, guarda em um cofre digital. E, claro, tudo que é guardado custa para ser guardado.
Tempo, dados e consumo: por que entender as big techs? 
Na era digital, apesar de parecer, nada é gratuito. Se você aparentemente não está pagando pelo serviço, muito provavelmente é você o produto. Na prática, isso significa que as ações e o tempo dedicado pelo usuário em cada um dos serviços oferecidos pelas big techs é metrificado e convertido em informações que permitem segmentar o consumo, capturando seus gostos, desejos e angústias e oferecendo produtos e serviços específicos que supostamente respondam a esse comportamento. 
Por exemplo: um torcedor do Flamengo que só lê e compartilha matérias sobre o clube, ao se deparar com o anúncio de uma nova camisa, está mais propício a comprá-la. Dados desse tipo, que combinam necessidade e oferta com tamanha precisão estão no centro do modelo de funcionamento das big techs e não existiam em modelos midiáticos anteriores, como rádio e televisão. 

Nota: Este conteúdo faz parte da “O que é…”, uma série-glossário da Lupa sobre mídia. Conteúdos para apoiar professores, jornalistas e outros interessados, com explicações acessíveis sobre educação midiática, buscando incorporar e aplicar  informações e estratégias para lidar com as novas dinâmicas digitais sem perder o foco, o bom senso e a criatividade.

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