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Greve de caminhoneiros: a onda de notícias falsas que dura um ano e pode se tornar realidade
23.04.2019 - 07h01
Rio de Janeiro - RJ
Em 21 de maio completa um ano a greve de caminhoneiros, movimento que fez faltar combustível, alimentos e diversos outros produtos pelo país. É verdade que a paralisação – que ajudou a encolher o crescimento do PIB para 0,2% no segundo trimestre de 2018 –  rendeu algumas conquistas para os que vivem de lá para cá nas estradas. Mas também teve outras consequências. Não só fez com que a Petrobras recuasse em sua política de preços para o diesel, mas também machucou o já então combalido governo de Michel Temer. Além disso, a greve finda em 1º de junho de 2018 inaugurou nas redes sociais uma nova era: o da epidemia de notícias falsas sobre a próxima greve de caminhoneiros – algo que se perpetua até hoje, alarmando a população.
As notícias falsas sobre novas paralisações prolongaram-se ao longo de 2018 e, desde o início do governo de Jair Bolsonaro, proliferam nos celulares e computadores. Estão no WhatsApp e nas redes sociais – no formato de áudio e de vídeo – sempre anunciando greves “para a próxima semana” ou para “o próximo mês”. Foi assim em fevereiro e em março. E, à medida em que a efeméride de um ano da greve real se aproxima, mais desinformação deve se espalhar.
Até aqui, a cada onda de manipulação descarada, fontes do governo e dos vários sindicatos (de caminhoneiros e de distribuidores de derivados de petróleo) desmentem os planos de greve. Mas isso não tem freado a fábrica de falsidades. Menos ainda parado o pânico dos usuários de WhatsApp.
Some-se agora a intenção do governo federal de garantir a independência da Petrobras na definição dos preços dos derivados do petróleo e a tentativa – simultânea – de acalmar os ânimos dos caminhoneiros. O resultado pode ser bombástico.
O pacote anunciado nesta semana mistura um investimento de R$ 2 bilhões na manutenção das estradas com uma linha de crédito de R$ 500 milhões para caminhoneiros. Também aumenta o preço do diesel em R$ 0,10 nas distribuidoras, o que afeta o custo de toda a cadeia de transporte rodoviário e do agronegócio. Enquanto isso, o preço do barril se mantém na faixa dos US$ 70, e o dos fretes, no desequilíbrio entre oferta e procura, segue baixo.
A confusão é campo fértil para boatos. Na manhã de quarta-feira (17), duas postagens que tratavam de uma possível greve de caminhoneiros no Facebook já tinham sido compartilhadas mais de mil vezes. Uma convidava o leitor a saber exatamente “quando os caminhoneiros iam parar”. No texto, no entanto, informava que não havia consenso algum sobre a paralisação. A outra classificava como “esmola” o pacote do governo federal. No texto, a aspa exata era um pouco mais complacente: “É melhor do que nada”.
Em maio do ano passado, os checadores da Agência Lupa padeceram ante a quantidade de notícias falsas a respeito da greve. Havia informações sobre assassinatos de caminhoneiros, conflitos com a Polícia Federal e até greves em outras categorias profissionais. Tudo ao vivo, regado a pânico e com a imediatez do WhatsApp. Para quem atua fora do universo da verificação talvez seja difícil imaginar a complexidade por trás do processo jornalístico de analisar a veracidade de tudo isso – a tempo e a contento. É hora, portanto, de alertar: não compartilhe notícias sem checar.
Este artigo foi publicado pelo site do jornal Folha de S.Paulo no dia 23 de abril de 2019.
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