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É falso que pesquisas sobre vacinas contra Covid-19 foram canceladas após a morte de voluntários
24.10.2020 - 14h54
Rio de Janeiro - RJ
Circula nas redes sociais um vídeo em que um enfermeiro faz uma série de declarações sobre os testes da CoronaVac e outras pesquisas para a descoberta de uma vacina contra a Covid-19. Para embasar a sua tese de que os laboratórios têm como objetivo “assassinar” e “destruir o povo brasileiro”, ele afirma que estudos teriam sido cancelados e alega que pessoas estariam morrendo por causa da realização dos testes. Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Todo mundo viu aí que várias [pesquisas] estão cancelando porque está morrendo gente”
Frase em vídeo no Facebook que, até as 19h de 23 de outubro de 2020, tinha mais de 11 mil compartilhamentos
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Pesquisas para a descoberta de uma vacina contra o novo coronavírus não foram canceladas devido à morte de voluntários. Nem a imprensa, nem veículos científicos publicaram qualquer notícia que desse conta de fatos semelhantes aos descritos pelo homem do vídeo.
Em relação ao Brasil, a Lupa procurou as quatro instituições que estão executando testes de potenciais vacinas: Centro Paulista de Investigação Clínica (Cepic), que coordena os estudos das vacinas da Janssen (Johnson&Johnson) e da Pfizer/BioNTech; Instituto Tecnologia do Paraná (Tecpar), que trabalha em parceria com o Fundo de Investimento Direto da Rússia e o Instituto Gamaleya no projeto da Sputnik V; Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da Universidade Federal de São Paulo (CRIE/Unifesp), responsável pelos testes da vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford; e Instituto Butantan, que executa os ensaios clínicos da CoronaVac, vacina da empresa chinesa Sinovac. Nenhuma delas confirmou a informação de ter encerrado seus estudos. Tampouco consta informação semelhante no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Atualmente apenas os testes da Janssen foram pausados. De acordo com a nota encaminhada pelo Cepic a medida foi tomada após um dos participantes apresentar uma doença inexplicada. O caso passa por uma auditoria, executada por um grupo independente de médicos, com o objetivo de entender o que provocou o efeito adverso. A pesquisa com a Sputnik V ainda não foi iniciada. A assessoria de imprensa do Tecpar informou que aguarda a definição sobre as ações de cooperação, que devem ser dadas pelo Fundo de Investimento Direto da Rússia. No site da Anvisa também é exposto que as tratativas estão em andamento para que o Tecpar possa realizar os testes da vacina. Isso ocorre porque ela foi desenvolvida fora do país e é preciso que sejam cumpridos os procedimentos de registro.
Sobre a vacina da Pfizer/BioNTech, o Cepic declarou que os testes permanecem sendo feitos normalmente e que não houve, até o momento, nenhum registro de efeito colateral ou falecimento, provocado pela aplicação do imunizante.
Situação parecida foi descrita em nota enviada pelo Instituto Butantan, que disse que as reações mais comuns observadas entre os participantes, que receberam a primeira dose da vacina, foram dor no local da aplicação, dor de cabeça e fadiga. O posicionamento explica também que o estudo clínico está na fase 3 e que não foi registrado nenhum efeito adverso grave ou óbito entre os participantes.
Já a Unifesp comunicou que o estudo com a vacina da AstraZeneca e Universidade de Oxford segue normalmente, sem ter havido notificações de “intercorrências graves de saúde com qualquer voluntário”. Questionados sobre o caso do médico João Pedro Feitosa, que estava participando do estudo e faleceu no dia 15 de outubro, afirmou que um comitê independente de médicos e as agências reguladoras brasileiras fizeram uma análise cuidadosa sobre o quadro de Feitosa e que o caso não colocou em dúvida a segurança da permanência dos testes.
A TV Globo apurou que o médico estava inserido no grupo de controle, ou seja, das pessoas que estavam sendo tratadas com placebo. Em nota, a reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição pela qual Feitosa se graduou, informou que ele atuava na linha de frente do atendimento a pacientes infectados por coronavírus.

“Veja bem: um vírus criado na China para contaminar o mundo inteiro, destruir a economia”Frase em vídeo no Facebook que, até as 19h de 23 de outubro de 2020, tinha mais de 11 mil compartilhamentos
Falso
Essa teoria da conspiração é uma das mais antigas que circulam nas redes, desde o início da pandemia do coronavírus. Um levantamento realizado pela Lupa, identificou que de 1º de janeiro a 3 de agosto, 90 publicações acusavam a China de ter criado o vírus, todas eram infundadas. Em março, dois estudos publicados na revista Nature Medicine concluíram que o vírus não foi criado artificialmente. Em abril, a Organização Mundial da Saúde também atestou que não houve manipulação laboratorial do vírus.

“Eles querem implantar o próprio vírus nas pessoas, olha que loucura. Estão querendo pegar o vírus, atenuar ele e aplicar nas pessoas, para que as pessoas sejam contaminadas através de vacina pelo coronavírus”
Frase em vídeo no Facebook que, até as 19h de 23 de outubro de 2020, tinha mais de 11 mil compartilhamentos
Falso
É falso que as vacinas são desenvolvidas com os vírus atenuados. Segundo publicação disponível no site da Anvisa, nenhuma das quatro vacinas que têm autorização para serem testadas no país são feitas a partir do enfraquecimento do vírus. O Instituto Butantan explicou que a CoronaVac está sendo formulada a partir da técnica de inativação do vírus. De acordo com artigo de Hermann G. Schatzmayr, Pesquisador do Departamento de Virologia Instituto Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz, esse processo é realizado a  partir de métodos químicos como a utilização do formol ou de detergentes para inativar o vírus.
Schatzmayr explica ainda que esse é um dos métodos mais seguros de desenvolvimento de vacinas, uma vez que ela garante que o vírus não se replique após ser injetado no corpo humano. O seu ponto fraco, segundo o pesquisador, é que o períodos de imunidade dessas vacinas tendem a ser menores do que aquelas produzidas com o vírus vivo e enfraquecido. Por isso, as pessoas devem tomar novas doses periodicamente, como acontece com a vacina da gripe, que deve ser aplicada anualmente.
As vacinas de Oxford e da Janssen são desenvolvidas a partir da técnica Vetor Viral Recombinante. Por essa técnica, um vírus já conhecido é combinado com partes do patógeno para o qual deseja-se obter imunidade — nesse caso, o SARS-Cov-2. Desse modo, a vacina estimula a criar anticorpos contra o microorganismo causador da doença. Em ambas as vacinas, o vírus usado como plataforma é um adenovírus, causador de resfriados comuns.
Já a Pfizer/BioNTech utiliza um método mais moderno, que seria o uso de um trecho do RNA do vírus que contém as informações genéticas necessárias para estimular a produção de antígenos. Sendo assim, não é injetado no corpo humano toda a estrutura viral, apenas uma parte que é suficiente para a ativação do sistema imunológico. Essa tecnologia é mais segura e pode ser mais barata que os métodos mais tradicionais, mas ainda não é usada comercialmente.
Embora nenhuma dessas vacinas esteja sendo desenvolvida com o vírus atenuado, essa técnica é antiga, eficaz e não resulta em pessoas infectadas com a doença. A vacina Sabin, por exemplo, é feita dessa forma. Ela é diretamente responsável por reduzir o número de casos da doença de centenas de milhares ao ano para menos de mil, na década atual.
Nota:‌ ‌esta‌ ‌reportagem‌ ‌faz‌ ‌parte‌ ‌do‌ ‌‌projeto‌ ‌de‌ ‌verificação‌ ‌de‌ ‌notícias‌‌ ‌no‌ ‌Facebook.‌ ‌Dúvidas‌ sobre‌ ‌o‌ ‌projeto?‌ ‌Entre‌ ‌em‌ ‌contato‌ ‌direto‌ ‌com‌ ‌o‌ ‌‌Facebook‌.
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