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8 de janeiro, Lula e guerra: relembre as ondas de desinformação de 2023
30.12.2023 - 08h00
Londrina - PR
Golpistas depredam prédios dos Três Poderes em Brasília - Foto: Joedson Alves/Agência Brasil (08/01/2023)
O ano de 2023 chega ao fim marcado por fatos históricos permeados por desinformações. Da distorção de fatos à incitação a crimes e discurso de ódio, a proliferação desenfreada de mentiras gerou frequentes disputas de narrativa, tanto virtuais quanto reais. 
O resultado foram ondas de desinformação que ganharam tração por dias, semanas e até meses ao longo de 2023. A Lupa mapeou algumas delas e, a seguir, detalha algumas das que tiveram maior impacto: os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, o primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a guerra entre Israel e Hamas e até a segurança das vacinas, mesmo após o controle da pandemia.

Atos golpistas

Se 2022 terminou com diversas teorias infundadas de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e as Forças Armadas impediriam a posse de Lula, 2023 começou como uma enxurrada de conteúdos sobre a depredação dos prédios dos Três Poderes em Brasília. Embora extremistas inicialmente tenham comemorado os atos golpistas de 8 de janeiro, logo passaram a investir na narrativa de que a ação era obra do próprio governo.
Entre janeiro e fevereiro deste ano, a Lupa publicou oito verificações desmentindo posts que apontavam a presença de supostos “infiltrados” governistas nos ataques. Publicações distorciam informações de câmeras de segurança, alegavam que invasores eram membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e até que teriam usado chaves para abrir portas no Palácio do Planalto — nada disso é verdadeiro.
Em uma tentativa de desqualificar a prisão dos depredadores, muitas pessoas também passaram a disseminar informações falsas sobre supostas mortes e a presença de crianças no ginásio da Polícia Federal onde os golpistas foram levados nos primeiros dias após os ataques.
Apesar de terem se concentrado especialmente nos primeiros meses do ano, fakes e teorias da conspiração sobre o 8 de janeiro ainda continuam circulando nas redes. Uma das postagens mais recentes desmentida sobre o tema, publicada em outubro, denunciou supostas imagens de câmeras de segurança do Planalto que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, teria mandado apagar, mas que acabaram vazando.
Esse discurso, não comprovado, de que Dino atuou para excluir cenas comprometedoras voltou a ser mencionado em sua sabatina no Senado no último dia 13, que o aprovou para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro, aliás, foi um dos principais alvos de desinformação do ano, com 21 verificações publicadas. Também se sobressaíram Lula e a primeira-dama Janja — ela chegou a ser falsamente acusada de ter tirado foto com um traficante internacional e defendido a prostituição usando lingerie

Governo Lula

Ao longo do ano, mais de 600 verificações foram publicadas pela Lupa. Delas, ao menos 145 estavam diretamente relacionadas ao presidente Lula ou a supostas ações de seu governo. As alegações de que o político teria roubado canetas durante uma reunião do G20 em setembro e um crucifixo do Planalto em 2010, por exemplo, estiveram entre as mais lidas do ano no site da Lupa e são falsas. Além disso, histórias como a de que o auxílio-reclusão teria sido elevado a um valor acima do salário mínimo pelo governo, associando-o à criminalidade, também viralizaram uma mentira nas redes.
Outra tendência observada foram vídeos que mostravam Lula supostamente bêbado. Segundo uma dessas postagens desmentidas, o petista não só estaria embriagado como teria agarrado uma mulher na frente de Janja. As gravações, no entanto, foram editadas e tiveram sua velocidade reduzida.
Já a transposição do Rio São Francisco, uma das vitrines propagadas pelas gestões petistas, foi tema de 10 verificações produzidas em 2023. Todas criticavam o governo Lula por supostamente desligar bombas, fechar comportas e obstruir canais do sistema com o objetivo de favorecer empresas de caminhão-pipa ou se “vingar” de Bolsonaro.
O governo também foi cobrado por uma resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS), instância colegiada e deliberativa do Sistema Único de Saúde (SUS), que compilava diversas sugestões de políticas públicas para implementação. Alguns dos pontos do documento foram distorcidos por pessoas que acusaram a gestão Lula de tentar descriminalizar o aborto e a maconha por meio dele. O governo, entretanto, não é obrigado a implementar as sugestões do CNS e informou que não estudava alterar normas em vigor.

Israel x Palestina

O ataque surpresa do grupo Hamas contra Israel em outubro deu origem a uma nova onda de desinformação nas redes. Desde então, 33 verificações relacionadas ao tema foram publicadas pela Lupa. Nas redes, circularam muitas imagens antigas, descontextualizadas ou que não foram registradas no contexto do atual conflito, como a de um bebê amarrado a granadas e a de crianças em gaiolas supostamente sequestradas.
Chama a atenção, no entanto, a forma como a guerra no Oriente Médio acabou refletindo a polarização política vivida no Brasil. Alguns dos conteúdos mais lidos sobre o tema, por exemplo, buscaram associar Lula e a esquerda ao Hamas. A semelhança dos nomes do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), e do presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta — este último defensor das ações do Hamas —, por exemplo, foi usada para confundir internautas.
Já Lula foi acusado de cumprimentar e posar para uma foto com o chefe do Hamas. O homem da imagem, na verdade, é o presidente do Irã.
Bolsonaro, por sua vez, teria sido intimado pelo STF para intermediar a liberação de brasileiros que estavam na Faixa de Gaza e teria recebido os repatriados antes de Lula, disseram outras publicações falsas.

Fakes sobre vacinas

A desinformação sobre vacinas ganhou um novo impulso a partir de fevereiro, com o início da aplicação do imunizante bivalente contra a Covid-19. Desde então, novos conteúdos desinformativos sobre o tema têm aparecido com regularidade: ao longo do ano, foram 62 verificações publicadas pela Lupa.
Muitas das falsas alegações buscaram distorcer fatos relacionados a outros países. A verificação campeã de acessos sobre vacinas desmentiu uma fala distorcida da primeira-ministra da província canadense de Alberta. Segundo o post, ela teria dito que os não vacinados estavam certos e pedia sinceras desculpas pelas “discriminações injustas” que esse grupo teria sofrido. Essa declaração, no entanto, nunca ocorreu. 
De acordo com outra história falsa importada, a Suprema Corte dos Estados Unidos teria reconhecido a existência de “danos irreparáveis” causados por vacinas de RNA mensageiro.
Já o governo da Suécia, dizia outra postagem, teria descartado 8,5 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 após descobrir seus malefícios. Embora, de fato, tenha descartado quantidade de imunizantes semelhante à indicada, isso se deu devido à expiração do prazo de validade e à substituição de tecnologias.
Além disso, no fim de março, uma decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) causou grande ruído e proliferação de fakes nas redes. Na ocasião, a entidade revisou as recomendações de vacinação contra a Covid-19 em um contexto com um nível de imunização mundial elevado.
Diferentemente do que sugeriam publicações virais à época, porém, a OMS não afirmou que as vacinas anticovid são desnecessárias para crianças e adolescentes nem desaconselhou a imunização contra a doença. Na verdade, a instituição apenas relativizou a necessidade de um reforço adicional para determinadas populações e defendeu priorizar grupos de risco — idosos, pessoas com comorbidades, profissionais da saúde, bebês e gestantes.

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