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É falso que vacinas transformarão as pessoas em ‘antenas’ de sinal 5G
01.02.2022 - 13h43
Rio de Janeiro - RJ
Circula pelas redes sociais um vídeo no qual um homem afirma que as vacinas contra a Covid-19 contêm um elemento que, supostamente, torna as pessoas uma espécie de “antena” do sinal 5G. A gravação é dividida em duas partes. Na primeira, o narrador comenta que a tecnologia 5G foi ligada nos Estados Unidos em 19 de janeiro e, na sequência, alerta que esse sinal de internet móvel tem uma “frequência eletromagnética” que não é adequada para as células humanas. O narrador então sugere que, para que a frequência do 5G seja “sustentada”, são necessárias várias antenas que funcionariam como “repetidoras” para manter o sinal. E que por isso as pessoas foram vacinadas, para que elas se “tornem as próprias antenas”. Segundo o autor, ninguém explicou para a população que os imunizantes contém um elemento chamado graf —  abreviação para o grafeno.
A legenda da publicação reforça o conteúdo do vídeo e afirma que as pessoas “picadas” serão transformadas em robôs. Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:
“Só que se [frequência eletromagnética 5G] não é adequada pra nós, para nossas células, imagine se nós já estivermos com nosso organismo com uma substância dentro que contém o graf [grafeno]. Agora você imagina que isso não ocorra só numa posição. Que isso seja startado (sic) em toda a América. E pra que uma eficácia dessa onda [5G] possa ser sustentada, é como se eu precisasse de várias antenas dessa em posições que não sejam muito distantes, porque por mais que a frequência seja bem baixa, ela precisa de repetidora para manter o mesmo sinal e a frequência (…)”
Conteúdo de vídeo publicado no Facebook que, até as 11h45 de 31 de janeiro de 2022, tinha mais de 2,5 mil visualizações
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. Embora existam diversos estudos na área, até o momento não foi confirmado que as redes de telefonia móvel sejam nocivas ao corpo humano. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que, “depois de muita pesquisa realizada, nenhum efeito adverso à saúde foi causalmente relacionado à exposição a tecnologias sem fio”. Especificamente sobre sistema 5G, ou quinta geração da internet móvel, que começou a ser implantado no mundo ainda em 2019, a exposição a essa infraestrutura é em torno de 3,5 GHz, semelhante às conexões anteriores (a primeira geração de conexão móvel, 1G, surgiu nos anos 1980).
De acordo com o professor do Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Walter P. Carpes Jr., todo sistema de transmissão de dados, seja as redes de telefonia celular, de TV ou de rádio, por exemplo, funciona com ondas eletromagnéticas. “O que muda de um para o outro é a frequência e a intensidade. No 5G, muitas das frequências são iguais às que já existem. Não é substancialmente diferente. Além disso, as intensidades são menores justamente porque as antenas são menores e os sinais mais fracos”, explicou.
Embora seja correta a informação de que o sistema 5G utilize mais antenas, isso não significa que seja mais ou menos prejudicial do que outros sistemas. “Antenas mais próximas permitem o uso de sinais bem menos intensos. Ou seja: ainda mais baixos do que os das outras gerações de telefonia celular, como 3G e 4G”, exemplificou o professor da UFSC
Carpes Jr. ressaltou ainda que os sinais que captamos de satélite para assistir à TV, por exemplo, ou o próprio sol, que irradia ondas eletromagnéticas, são frequências muito maiores do que as do sinal 5G. “A teoria do vídeo é tão errada que fica até difícil refutar. Ele confundiu inclusive unidades de grandeza. As potências usadas em telefonia celular e 5G são ínfimas se comparadas ao que já existe”.

“Por isso que inocularam nas pessoas para que elas se tornem as próprias antenas. Só que não explicaram pra essas pessoas, porque ninguém sabia quando começou esse processo global de redução, que dentro daquele liquidozinho, que era o líquido mágico para acabar com o problema que eles mesmos criaram, ninguém avisou que ali dentro tinha o graf. Alguém avisou?”Conteúdo de vídeo publicado no Facebook que, até as 11h45 de 31 de janeiro de 2022, tinha mais de 2,5 mil visualizações
Falso
A informação analisada pela Lupa é falsa. As vacinas contra a Covid-19 não transformam as pessoas imunizadas em “antenas” ou “repetidoras” do sinal 5G. Nenhuma das fórmulas aprovadas pelas agências reguladoras internacionais contém substâncias capazes de emitir ou retransmitir qualquer sinal eletromagnético ou frequência. “Uma antena é uma obra de engenharia complexa, que envolve vários elementos. O autor mistura dois conhecimentos distintos, biologia e física. Vacinas são feitas de produtos orgânicos, como nós, seres vivos. As radiações são um processo físico. São coisas distintas, portanto. Elas até podem interagir, mas é improvável que interajam  da maneira como é descrito no vídeo. Trata-se de uma teoria absurda e sem nenhum embasamento”, afirmou o professor Aguinaldo R. Pinto, chefe do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC.
Além disso, nenhuma das vacinas atualmente disponíveis possuem grafeno em suas fórmulas — a bula dos imunizantes aprovados para uso no Brasil podem ser consultadas no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O grafeno é uma forma de carbono. Esse material é obtido a partir da extração de camadas superficiais de grafite e é considerado o mais fino do mundo. Uma das características desse material é que, além de ser resistente, leve e flexível, é um bom condutor térmico e de eletricidade. Em razão desses atributos, o uso do grafeno tem sido estudado principalmente pela indústria de tecnologia e telecomunicações.
O uso desse material, contudo, ainda é muito experimental e caro. De acordo com Carpes Jr., professor da UFSC, não é utilizado ainda na fabricação de antenas ou componentes para captação de sinal 5G. “Ainda tem muito pouca aplicação prática porque está em desenvolvimento. É um material que sem dúvida vai revolucionar a tecnologia, mas ainda está no campo experimental”, pontuou.

5G e grafeno

O 5G já está disponível em pelo menos 60 países e territórios. Essa tecnologia é uma evolução das redes 3G e 4G, atualmente usadas no Brasil. O 5G tem uma banda mais larga e permite uma velocidade de download mais alta do que a geração anterior, além de transmissões mais estáveis.
Essa não é a primeira vez que a Lupa desmente informações falsas envolvendo essa rede de dados e as vacinas contra a Covid-19. Em maio de 2020, circulou pelas mídias brasileiras que o fundador da Microsoft, Bill Gates, estaria criando uma vacina não líquida capaz de controlar os usuários por meio da rede — o que não é verdade.
No primeiro ano da pandemia, teorias da conspiração relacionando a tecnologia 5G e o novo coronavírus foram uma das principais ondas de desinformação daquele ano em todo o mundo. Uma análise feita pela Lupa mostrou que isso foi o tema de 116 checagens somente entre janeiro e junho de 2020.
O grafeno também já foi alvo de desinformação ao longo da pandemia. Em 2021, circularam boatos de que as vacinas continham óxido de grafeno em sua composição — o que não é verdade. Um outro conteúdo viral falsamente sugeriu que a farmacêutica Pfizer teria patenteado um sistema de rastreamento de vacinados por meio de micro-ondas e do óxido de grafeno, supostamente presente na composição dos imunizantes. Esse boato também foi desmentido.
Nota:‌ ‌esta‌ ‌reportagem‌ ‌faz‌ ‌parte‌ ‌do‌ ‌‌projeto‌ ‌de‌ ‌verificação‌ ‌de‌ ‌notícias‌‌ ‌no‌ ‌Facebook.‌ ‌Dúvidas‌ sobre‌ ‌o‌ ‌projeto?‌ ‌Entre‌ ‌em‌ ‌contato‌ ‌direto‌ ‌com‌ ‌o‌ ‌‌Facebook‌.
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João Pedro Capobianco
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